Profª de Filosofia e Sociologia da Rede Estadual de Goiás desde 2010.
"Quem educa com carinho e seriedade, educa para sempre".
Comece onde você está. Use o que você tem. Faça o que puder.
 

[1ª Série] Filosofia: Atividade Avaliativa - Para que devo estudar Filosofia?

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

 Bom dia pessoal!

O texto que segue abaixo, apesar de ser um pouco grande, é de fácil compreensão e engloba muito bem o que tenho falado em sala a respeito da importância de se estudar Filosofia. 

Vocês deverão fazer a leitura dele e depois responder aos questionamentos abaixo. As suas respostas serão colocadas em forma de comentário na própria postagem. Vocês podem fazê-la individualmente ou em grupos de até 05 integrantes.

Mas fiquem atentos! Vocês devem colocar, antes do comentário de vocês, nome completo e a turma que estão matriculados, ok? Esta atividade é avaliativa, portanto, não deixem de fazê-la.

Atividade Avaliativa:
  1. Segundo o texto, qual a justificativa de se compreender a importância e para que "serve" a Filosofia?
  2. Explique a frase do autor que diz "Sem Filosofia nossa vida, seria limitada a simples cálculos, o que nos tornaria calculistas, frios e sem vida".
  3. De que forma a Filosofia pode contribuir para que tenhamos uma visão mais crítica sobre a nossa própria realidade? Você pode dar exemplos para explicar o seu ponto de vista.
Profª. Karoline


Para que estudar Filosofia?
 


1 No primeiro dia de aula fui indagado por uma aluna: “Professor, até hoje ninguém conseguiu me explicar o que é Filosofia?” Não era surpresa. Respondi que a resposta que ela estava buscando estava dentro dela mesma e em nenhum outro lugar. “Mas como assim?” Voltou a indagar.

2 Observando outras aulas, como de física por exemplo, a professora falava da importância em estudar aquele determinado conteúdo que certamente seria conteúdo de prova de vestibular. Percebi certo interesse e atenção dos alunos, que estavam sendo provocados pelo desejo de passar no vestibular.


3 Vamos avançando na reflexão. Será que Filosofia não aparece no vestibular? Por que então estudar essa disciplina? Na interpretação da questão de física, na produção da redação, na interpretação do texto de português, na equação matemática, sempre há um toque de Filosofia.

4 Aquele que não consegue seguir o raciocínio lógico da matemática, por exemplo, não teve uma boa aula de Filosofia. Filosofia não se estuda com descobertas cientificas, frases, respostas prontas. A sua preocupação está voltada há uma verdade maior, uma verdade que transcende os limites da razão humana, à qual somos instigados a buscar constantemente. Essa busca e essa verdade não são finitas, por isso enquanto o homem existir, e isso penso ser maravilhoso, ele vai estar sempre em busca dessa verdade maior.


5 É preciso estudar Filosofia para entendermos melhor a vida. Entender e compreender seu real e imenso valor que possui em si. Sem Filosofia nossa vida, seria limitada a simples cálculos, o que nos tornaria calculistas, frios e sem vida.

6 A Filosofia abre os horizontes e nos guia para uma verdade que transcende todas as verdades da ciência. A verdade de nossa existência, a força que nos move para uma busca infinita.


7 Só entenderemos o sentido da Filosofia quando entendermos que não podemos somar ou subtrair, multiplicar nem dividir nossa verdade, o bem, o belo, o amor, a existência. Os sentimentos podem ser expressados nas mais diversas formas, mas nunca numa equação matemática, nem numa composição química ou física.

8 Nossas relações se tornam frias e calculistas porque na sociedade vive-se dessa maneira. Muitos dizem que pensar é coisa de quem não tem o que fazer. Porém, a reflexão ajuda a compreender as coisas da forma como nenhuma ciência ajuda a compreender.

9 Hoje, questões ligadas a vida, a ética, a moral, aos direitos humanos exigem muita reflexão, a qual a Filosofia ajuda, e sem a qual caímos no dogmatismo ou não compreendemos a vida na sua essência. Aos poucos vamos percebendo melhor quanto a Filosofia faz parte da nossa vida. Muitos usam a Filosofia sem nunca terem estudado algo especificamente ligado à ela. É difícil encontrar um termo para definir Filosofia, porém, não podemos compreendê-la separada da nossa realidade, do nosso cotidiano, da nossa vida, pois ela é intrínseca a nós. Não somos nós que escolhemos a Filosofia, mas é ela quem nos escolhe.

10 A Filosofia nos faz refletir sobre o que é melhor para nós e para o meio em que vivemos. Diante de determinadas situações, a reflexão filosófica nos ajuda para fazermos a melhor escolha, a opção mais eficaz. Talvez, por sermos calculistas, frios, não gostamos de Filosofia, justamente porque ela mexe com nosso interior e isso pode doer, pois nos faz refletir sobre decisões tomadas e que muitas vezes, foram feitas sem muita reflexão.

11 Temos preguiça de pensar. Não usamos nossa capacidade de raciocínio e por isso, em tantos casos, nos damos mal. A escola se preocupa muito com o decorar as coisas. Saber regras de cor, mas na vida é preciso refletir diante de fatos, pois não podemos aplicar à tudo as mesmas respostas. A vida não é padronizada e quem a faz assim sofre muito. Há opções a serem feitas; leis a serem cumpridas. Sem a reflexão seremos meros executores, sem sabermos o porque de todas essas coisas.

12 Em muitos casos somos colocados no mesmo patamar das máquinas, que funcionam com determinados comandos. A vida não é assim. Para quem não reflete, viver assim, pode parecer a melhor forma. Muitas pessoas não encontram o sentido da vida, porque não conseguem ver além da beleza externa. Se colocarmos o sentido da vida nas aparências, não demora muito e caímos na decepção, no desespero, na agonia de uma vida mal vivida, porque as aparências podem nos enganar. Se a nossa verdade, o sentido da nossa vida está embasado numa verdade interior e maior que a das aparências, seremos mais felizes e encontraremos a razão do nosso existir.

13 Existem inúmeros exemplos a esse respeito. Numa relação de Amizade, por exemplo. Se não há um conhecimento maior de ambas as partes, esse sentimento morre logo. Quando nos conhecemos melhor interiormente e conhecemos também o outro, as dificuldades e dúvidas que aparecerão serão superadas e entendidas com maior facilidade, pois sabemos que em cada pessoa há um bem maior e que pode, deve e precisa ser conhecido. Uma amizade que fica só nas aparências é como uma casa construída sobre a areia. Na primeira tempestade, na primeira ventania desmorono. Cai por terra. Uma amizade alicerçada na verdade, no conhecimento interior do outro e de si, as tempestades vindouras não terão forças suficientes para destruir. O que permanece é aquilo que está alicerçado na razão e no coração ao mesmo tempo. O restante é passageiro e ilusório.

14 As grandes amizades são aquelas que foram estruturadas pela verdade e conhecimento um do outro sem medos e reservas. Elas resistem e permanecem porque seu alicerce é mais firme e melhor construído. A Filosofia permite um maior conhecimento da pessoa do outro e da minha. Sabendo e conhecendo minhas limitações saberei compreender as limitações do outro. Saberei que todos somos caminhantes e estamos na busca da verdade transcendental e que nunca tem um fim. Ninguém pode dizer: Chega! Basta! Sei tudo o que preciso! Pessoas ignorantes talvez pensam assim. Pensar assim é igual a morrer. Por que continuar vivendo se sei tudo?

15 Enquanto vivemos somos impulsionados à busca da verdade e isso nos da forças e incentivos para continuarmos vivendo, sendo sedentos e desejosos da vida. Por que esta não se limita a nenhuma ciência, mas encontra sua razão de ser na Filosofia.

16 Agora pergunto se consegui responder a pergunta levantada pela jovem na sala de aula. Se você, que está lendo este artigo já fez uma experiência profunda da vida, penso que vai entender. Se você ainda não fez, sinta-se convidado a fazer essa experiência que é única e maravilhosa.

17 A Filosofia acontece no dia-a-dia da nossa vida, basta nos darmos conta disso. Filosofia é refletir sobre as coisas que acontecem, são ditas e ouvidas. Não se limita apenas à perguntarmos POR QUE?, mas precisamos ir mais adiante. Precisamos nos perguntar do nível de verdade daquilo que a TV apresenta. Aquilo que muitas revistas trazem em suas páginas. Não podemos nos esquecer que eles tem seu ponto de vista e seus interesses, mas estes não deveriam ocultar a verdade. A interpretação de uma notícia, seu posicionamento crítico e argumentação, é uma forma de fazer Filosofia. Aceitar tal e qual tudo o que jornais, TV e revistas nos apresentam é uma forma de ignorância. Precisamos ter cuidado. Isso não que dizer que todos e em todas as ocasiões mentem, ou faltam com a verdade. Porém, sempre, sem exceção precisamos nos perguntar pela verdade dos fatos.

18 Quantas vezes os repórteres são induzidos a manipularem notícias sobre determinados acontecimentos e assuntos. Sempre que possível seria importante ler ou assistir mais de um jornal e depois fazer um paralelo entre eles. Isso exige tempo e vontade. Podemos discutir com outras pessoas para ouvir seu ponto de vista que ajuda-nos a abrir nossos horizontes. Quanto mais nos fechamos em nós mesmos, em nosso mundo individual, mais ignorantes nos tornamos. A abertura, a experiência, o dialogo, a leitura, nos tornam pessoas abertas e conhecedoras da verdade. Buscar sempre a verdade dos acontecimentos, dos fatos é uma atitude filosófica.

19 Se pararmos e pensarmos neste momento o quanto refletimos sobre tudo o que acontece, ouvimos e vemos, nos daremos conta que nem sempre fazemos isso e não fazemos porque simplesmente não queremos, pois todos nós podemos e sabemos.

20 Se refletíssemos, por exemplo, o nível de verdade que mostra a novela, não sei se ligaríamos ainda a TV para nossos filhos e para nós assistirmos. Sem nenhum desprezo e sem querer desrespeitar quem gosta e assiste sempre, acredito que as novelas são uma forma de manipulação as pessoas. Mas é clero que assistir de vez em quando e com uma visão critica não faz mal. Às vezes vejo justamente para depois comentar e usar como exemplo o alto nível de baixaria de muitas novelas e de muitos programas de TV. Para isso, não podemos deixar de fazer lembrança da necessidade de uma boa educação. Nossas escolas precisam repensar o nível de qualidade daquilo que se ensina e a forma como se ensina. Pessoas esclarecidas sabem criticar e dosar as coisas, estando na busca da verdade e do bom senso.

21 Precisamos nos perguntar qual o nível de conhecimento que uma pessoa tem dos acontecimentos históricos quando escreve novela, filme, minissérie. Será que aquilo é a verdade? Será que é a melhor forma de ver o acontecimento?

22 Estes e outros inúmeros fatos fazem parte do nosso cotidiano. Viu como não é difícil compreender e praticar Filosofia? Mente aberta à reflexão de tudo o que acontece e vemos é um jeito, não único, de fazer Filosofia.

[2ª Série] Filosofia: Tipos de Conhecimento

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Conhecimento Empírico: popular ou vulgar é o modo comum, corrente e espontâneo de conhecer, que se adquire no trato direto com as coisas e os seres humanos. As informações são assimiladas por tradição, experiências causais, é caracterizado pela aceitação, sendo mais sujeito ao erro nas deduções e prognósticos.  É superficial, sensitivo e subjetivo.

Conhecimento Científico: o conhecimento científico vai além da visão empírica, preocupa-se não só com os efeitos, mas principalmente com as causas e leis que o motivaram. Esta nova percepção do conhecimento se deu de forma lenta e gradual. Este conceito ganhou força a partir do século XVI com Copérnico, Bacon, Galileu, Descartes e outros. É tratado como um saber ordenado e lógico que possibilita a formação de idéias, num processo complexo de pesquisa, análise e síntese, de maneira que as afirmações que não podem ser comprovadas são descartadas do âmbito da ciência.

Conhecimento Filosófico: o conhecimento que se baseia no filosofar, na interrogação como instrumento para decifrar elementos imperceptíveis aos sentidos. É uma busca partindo do material para o universal, exige um método racional, diferente do método experimental (científico), levando em conta os diferentes objetos de estudo. O objeto de análise da filosofia são idéias, relações conceituais, exigências lógicas que não são redutíveis a realidades materiais. Hoje, os filósofos, além das questões metafísicas tradicionais, formulam novas questões: A maquina substituirá quase totalmente o homem? A clonagem humana será uma prática aceita universalmente? O conhecimento tecnológico é um benefício para o homem? Quando chegará a vez do combate à fome e à miséria? Etc.

Conhecimento Teológico: conhecimento adquirido a partir da aceitação de axiomas da fé teológica, é fruto da revelação da divindade, por meio de indivíduos inspirados que apresentam respostas aos mistérios que permeiam a mente humana, “pode ser dados da vida futura, da natureza e da existência do absoluto”.

[2ª Série] Filosofia: Sócrates


Sócrates

A data do nascimento de Sócrates é determinada pela idade que tinha à data do processo e da condenação. Nessa data (399) tinha setenta anos (Plat., Ap., 175; Crit., 52 e); devia ter nascido portanto em 470 ou nos primeiros meses de 469 a.C..

O pai, Sofronisco, era escultor; a mãe, Fenarete, parteira: ele próprio comparou depois a sua obra de mestre à arte da mãe (Teet., 149 a). Completou em Atenas a sua educação juvenil, estudou provavelmente geometria e astronomia; e se não foi aluno de Anaxágoras (como queria um testemunho antigo), conheceu certamente o escrito deste filósofo, como se depreende do Fédon platónico (97 c). Só se ausentou de Atenas por três vezes para cumprir os seus deveres de soldado e participou nas batalhas de Potideia, Délios e Anfípolis. No Banquete de Platão, Alcibíades fala de Sócrates na guerra como de um homem insensível à fadiga e ao frio, corajoso, modesto e senhor de si mesmo no próprio momento em que o exército era derrotado.

Sócrates manteve-se afastado da vida política. A sua vocação, a tarefa a que se dedicou e a que se manteve fiel até ao final, declarando ao próprio tribunal que se preparava para o condenar, que não a abandonaria em caso algum, foi a filosofia.

Mas ele entende a investigação filosófica como um exame incessante de si próprio e dos outros; a este exame dedicou todo o seu tempo, sem nenhum ensinamento regular. Por esta tarefa, descurou toda a atividade prática e viveu pobremente com sua mulher Xantipa e os filhos. Todavia, a sua figura não tem nenhum dos traços convencionais de que a tradição se serviu para delinear o carácter de outros sábios, por exemplo,  de Anaxágoras ou de Demócrito.

A sua personalidade tinha qualquer coisa de estranho (àtopon) e de inquietante que não escapava àqueles que dele se aproximaram e o descreveram. A sua própria aparência física chocava o ideal helênico da alma sábia num corpo belo e harmonioso: parecia um Sileno e isto estava em estridente contraste com o seu carácter moral e o domínio de si mesmo que conservava em todas as circunstâncias (Banq., 215, 221). Pelo aspecto inquietante da sua personalidade, foi comparado por Platão à tremelga do mar que entorpece quem a toca: do mesmo modo provocava a dúvida e a inquietação no ânimo daqueles que dele se aproximavam (Mén., 80).

Todavia, este homem que dedicou à filosofia a existência inteira e morreu por ela, nada escreveu. É indubitavelmente o maior paradoxo da filosofia grega. Não pode tratar-se dum fato casual. Se Sócrates nada escreveu, foi porque defende que a pesquisa filosófica, tal como ele a entendia e praticava, não podia ser levada por diante ou continuada depois dele, por um escrito. [...] Para Sócrates que entende o filosofar como o exame incessante de si e dos outros, nenhum escrito pode suscitar e dirigir o filosofar. O escrito pode comunicar uma doutrina, não estimular a pesquisa. Se Sócrates renunciou a escrever, isto foi devido ainda à sua própria atitude filosófica e faz parte essencial de tal atitude.


O “Conhece-te a ti mesmo e a ironia socrática”

"Sócrates chamou a filosofia do céu à terra," Estas palavras de Cícero (Tusc., V, 4, 10) exprimem exatamente o caráter da investigação socrática. Ela tem por objeto exclusivamente o homem e o seu mundo; isto é, a comunidade em que vive.

A sua missão é a de promover no homem a investigação em torno do homem. Esta investigação deve tender a colocar o homem, cada homem individual, a claro consigo mesmo, a levá-lo ao reconhecimento dos seus limites e a torná-lo justo, isto é solidário com os outros. Por isso Sócrates fez sua a divisa délfica "conhece-te a ti mesmo" e fez do filosofar um exame incessante de si próprio e dos outros: de si próprio em relação aos outros, dos outros em relação a si próprio.

A primeira condição deste exame é o reconhecimento da própria ignorância. Quando Sócrates conheceu a resposta do oráculo que o proclamava o homem mais sábio de todos, surpreendido andou a interrogar os que pareciam sábios e deu-se conta de que a sabedoria deles era nula. Compreendeu então o significado do oráculo: nenhum dos homens sabe verdadeiramente nada, mas sábio apenas quem sabe que não sabe, não quem se ilude com saber e ignora assim até a sua própria ignorância.            

Na realidade só quem sabe que não sabe procurará saber, enquanto os que crêem estar na posse dum saber fictício não são capazes da investigação, não se preocupam consigo mesmos e permanecem irremediávelmente afastados da verdade e da virtude.

Este princípio socrático representa a antítese nítida da sofística. Contra os sofistas que faziam profissão de sabedoria e pretendiam ensiná-la aos outros, Sócrates fez profissão de ignorância: o saber dos sofistas é um não-saber, um saber fictício privado de verdade que dá apenas presunção e jactância e impede de assumir a atitude submissa da investigação.

A ironia é o meio de descobrir a nulidade do ar fitício, de pôr a nu a ignorância fundamental que o homem oculta até a si próprio com os ouropéis de um saber feito de palavras e de vazio.A ironia é a arma de Sócrates contra a vaidade do ignorante que não sabe que é tal e por isso se recusa a examinar-se a si mesmo e a reconhecer os limites próprios. Esta é a sacudidela que o torpedo tremelga marinho comunica a quem a toca e sacode pois o homem do torpor e lhe comunica a dúvida que o encaminha para a busca de si mesmo. Mas precisamente por isso é também uma libertação.

A Maiêutica

Sócrates não se propõe portanto comunicar uma doutrina ou complexo de doutrinas. Ele não ensina nada: comunica apenas o estímulo e o interesse pela pesquisa. Em tal sentido compara, no Teeteto platônico, a sua arte à da mãe, a parteira Fenarete. A sua arte consiste essencialmente em averiguar por todos os meios se o seu interlocutor tem de parir algo fantástico e falso ou genuíno e verdadeiro. Ele declara-se estéril de sabedoria.
[...] E ele não tem nenhuma descoberta a ensinar aos  outros e não pode fazer outra coisa senão ajudá-los no seu parto intelectual. E os outros, aqueles que dele se aproximam, a princípio parecem completamente ignorantes, mas depois a sua pesquisa torna-se fecunda, sem que todavia aprendam nada dele.

Esta arte maiêutica não é na realidade senão a arte da pesquisa em comum. O homem não pode por si só ver claro em si próprio. A pesquisa que o concerne não pode começar e acabar no recinto fechado da sua individualidade: pelo contrário só pode ser o fruto de um dialogar continuo com os outros, como consigo mesmo.


Texto adaptado de: ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. Vol. I. 2ª edição. Editorial Presença. Texto digitalizado.

[1ª Série] Tópicos de Filosofia: Mais um mito de Thor

Mais um mito sobre Thor...

O que este mito tenta explicar, pessoal?

Profª. Karoline

Tor adormeceu e que, quando acordou, seu martelo tinha desaparecido. Tor ficou tão furioso que suas mãos tremeram e sua barba estremeceu. Acompanhado de seu homem de confiança, Loki, Tor foi até Freyja para lhe pedir emprestadas suas asas, a fim de que Loki pudesse voar até Jotunheim e descobrir se os trolls tinham roubado o martelo de Tor. Lá chegando, Loki encontrou Trym, o rei dos trolls, que logo foi se gabando por ter enterrado o martelo cinco quilômetros debaixo da terra. E, para completar, Trym disse que os deuses só teriam o martelo de volta se Freyja se casasse com ele.

Subitamente, os deuses do bem estão diante de um drama jamais visto: um drama envolvendo um refém. Os trolls têm agora em seu poder a mais importante arma de defesa dos deuses, e esta situação é absolutamente inaceitável. Enquanto os trolls estiverem com o martelo de Tor, seu poder sobre os mundos dos deuses e dos homens será irrestrito. Para devolver o martelo eles exigem Freyja. Mas esta troca não é possível. Se os deuses entregarem a deusa da fertilidade, que protege todas as formas de vida, então o verde desaparecerá dos pastos, e deuses e homens acabarão morrendo. Não há, portanto, como avançar ou como retroceder nesta situação.

O deus Heimdal tem uma boa idéia. Ele sugere que Tor se fantasie de noiva. Prendendo os cabelos e amarrando duas pedras no lugar dos seios, ele ficaria parecido com uma mulher. É claro que Tor não fica muito entusiasmado com esta idéia, mas acaba reconhecendo que só assim os deuses teriam uma chance de reaver o martelo. No fim, Tor é fantasiado de noiva e Loki o acompanha como dama de honra. — E assim levamos não apenas uma, mas duas mulheres para os trolls — diz Loki em tom de brincadeira.

Logo que eles chegam a Jotunheim, os trolls iniciam todos os preparativos para as bodas. Na festa, porém, a noiva – isto é, Tor – come um boi inteiro, oito salmões e bebe três barris de cerveja. Trym fica admirado com o que vê. Por um triz o disfarce não é descoberto. Mas Loki consegue salvá-los desse perigo.

Ele conta que Freyja não comia havia oito dias, tão ansiosa que ela estava para chegar a Jotunheim. Logo que eles chegam a Jotunheim, os trolls iniciam todos os preparativos para as bodas. Na festa, porém, a noiva – isto é, Tor – come um boi inteiro, oito salmões e bebe três barris de cerveja. Trym fica admirado com o que vê. Por um triz o disfarce não é descoberto. Mas Loki consegue salvá-los desse perigo. Ele conta que Freyja não comia havia oito dias, tão ansiosa que ela estava para chegar a Jotunheim.

Quando Trym ergue o véu da noiva para beijá-la, ele recua ao se deparar com o olhar severo de Tor. Mas também desta vez Loki consegue contornar a situação. Ele conta que a noiva havia sete noites não conseguia dormir de alegria com o casamento. Então Trym ordena que tragam o martelo e que ele seja colocado no colo da noiva durante a cerimônia de casamento. Conta o mito que quando Tor viu o martelo no seu colo, ele deu uma boa risada. Primeiro matou Trym e depois todos os outros trolls de Jotunheim. E, assim, o terrível drama envolvendo um refém teve um final feliz. Mais uma vez, Tor tinha vencido as forças do mal.

Este mito quer explicar alguma coisa. E aqui vai uma interpretação possível: Quando a seca assolava uma região, as pessoas precisavam de uma explicação para a total ausência de chuva. Não seria porque os trolls tinham roubado o martelo de Tor? Podemos imaginar também que este mito tenta explicar a alternância das estações do ano: no inverno a natureza está morta, porque o martelo de Tor está em Jotunheim. Mas na primavera Tor consegue reavê-lo. E, assim, os mitos tentam explicar às pessoas algo que elas não conseguem entender.

[1ª Série] Filosofia: Fragmento de Comte-Sponville

Texto:

[...] A cena se desenrola no início do século XX, num lugarejo da França rural. Um jovem professor de filosofia passeia com um amigo e encontra um camponês, que seu amigo conhece, lhe apresenta e com o qual nosso filósofo troca algumas palavras.

— O que o senhor faz? — indaga o camponês?
— Sou professor de filosofia.
— Isso é profissão?
— Por que não? Acha estranho?
— Um pouco!
— Por quê?
— Um filósofo é uma pessoa que não liga para nada... Não sabia que isso se aprendia na escola.
O que é um filósofo? É alguém que pratica a filosofia, em outras palavras, que se serve da razão para tentar pensar o mundo e sua própria vida, a fim de se aproximar da sabedora ou da felicidade. E isso se aprende na escola? Tem que ser aprendido, já que ninguém nasce filósofo e já que a filosofia é, antes de mais nada, um trabalho. Tanto melhor, se ele começar na escola. O importante é começar, e não parar mais.

Nunca é cedo demais nem tarde demais para filosofar, dizia Epicuro [...]. Digamos que só é tarde demais quando já não é possível pensar de modo algum. Pode acontecer. Mais um motivo para filosofar sem mais tardar.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda Aranha; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando – Introdução à Filosofia. São Paulo: Editora Moderna, 2010, p. 15.
COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário filosófico. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 251-252.

[1ª Série] Tópicos de Filosofia

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Caros alunos, 
Segue abaixo mais um mito, agora grego.

 Profª. Karoline

O mito de Prometeu
O Céu e Terra já estavam criados. A parte ígnea, mais leve, tinha-se espalhado e formado o firmamento. O ar colocou-se de seguida. A terra, como era mais pesada, ficou por baixo e a água ocupou o ponto inferior, fazendo flutuar a terra. Neste mundo assim criado, habitavam as plantas e os animais. Mas faltava a criatura na qual pudesse habitar o espírito divino.

Foi então que chegou à terra o Titã Prometeu, descendente da antiga raça de deuses destronada por Zeus. O gigante sabia que na terra estava adormecida a semente dos céus. Por isso apanhou um bocado de argila e molhou-a com um pouco de água de um rio. Com essa matéria fez o homem, à semelhança dos deuses, para que fosse o senhor da terra. Tirou das almas dos animais características boas e más, animando assim a sua criatura. E Atena, deusa da sabedoria, admirou a criação do filho dos Titãs e insuflou naquela imagem de argila o espírito com o sopro divino.

Foi assim que surgiram os primeiros seres humanos, que logo povoaram a terra. Mas faltavam-lhes conhecimentos sobre os assuntos da terra e do céu. Vagueavam sem saber a arte da construção, da agricultura, da filosofia. Não sabiam caçar ou pescar - e nada sabiam sobre a sua origem divina.

Prometeu aproximou-se e ensinou às suas criaturas todos esses segredos. Inventou o arado para o homem poder plantar, a cunhagem das moedas para que houvesse o comércio, a escrita e a extracção do minério. Ensinou-lhes a arte da profecia e da astronomia, enfim todas as artes necessárias ao desenvolvimento da humanidade.

No entanto faltava-lhes ainda um último dom para se puderem manter vivos - o fogo. Este dom, entretanto, havia sido negado à humanidade pelo grande Zeus. Porém, Prometeu apanhou um caule do nártex, aproximou-se da carruagem de Febo (o Sol) e incendiou o caule. Com esta tocha, Prometeu entregou o fogo para a humanidade, o que lhe dava a possibilidade de dominar o mundo e os seus habitantes.

Zeus, porém, irritou-se ao ver que o homem possuíra o fogo e que a sua vontade tinha sido contrariada. Por isso tramou no Olimpo a sua vingança. Mandou que Hefesto fizesse uma estátua de uma linda donzela, a que chamou Pandora - "a que possui todos os dons",(uma vez que cada um dos deuses deu à donzela um dom). Afrodite deu-lhe a beleza, Hermes o dom da fala, Apólo, a música. Vários outros encantos foram consedidos à criatura pelos deuses.

Zeus pediu ainda que cada imortal reservasse um malefício para a humanidade. Esses presentes maléficos foram guardados numa caixa, que a donzela levava nas mãos. Pandora, então, desceu à terra, conduzida por Hermes, e aproximou-se de Epimeteu - "o que pensa depois", o irmão de Prometeu - "aquele que pensa antes" e diante dele abriu a tampa do presente de Zeus. Foi então que a humanidade, que até aquele momento havia habitado num mundo sem doenças ou sofrimentos, se viu assaltada por inúmeros malefícios. Pandora tornou a fechar a caixa rapidamente, antes que o único benefício que havia na caixa escapasse - a esperança.

Zeus dirigiu então a sua fúria contra o próprio Prometeu, mandando que Hefesto e seus serviçais Crato e Bia (o poder e a violência) acorrentassem o Titã a um penhasco do monte Cáucaso. Mandou ainda uma águia devorar diariamente o fígado de Prometeu que, por ser ele um Titã, se regenerava. O seu sofrimento durou por inúmeras eras, até que Hércules passou por ele e viu o seu sofrimento. Abateu a gigantesca águia com uma flecha certeira e libertou o cativo das suas correntes. Entretanto, para que a vontade de Zeus fosse cumprida, o gigante passou a usar um anel com uma pedra retirada do monte. Assim, Zeus sempre poderia afirmar que Prometeu se mantinha preso ao Cáucaso.

[Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/protagoras/links/mito_prom.htm]

[3ª Série] Filosofia: Felicidade Realista

Queridos alunos
Na semana anterior foi lhes apresentado um texto que discute como os grandes filósofos já pensaram sobre a Felicidade.
Em sala, ao lermos o texto de nosso livro, vimos que Aristóteles diz ser a Feliciade um bem em si mesmo. Em outras palavras, que a Felicidade não é algo que procuramos com vistas em outras coisas, mas que a procuramos por ela mesma.

Sendo assim, quem pensa que ser feliz é ter bens materiais, dinheiro ou status social está completamente equivocado.

O texto que segue abaixo fala de forma simples e até descontraída a respeito do tema levando em conta os "modelos" de Felicidade repetidos e almejados em nossos tempos. Leiam. Depois deixem aqui seus comentários a respeito.
 Profª. Karoline




Felicidade Realista
Martha Medeiros

A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.

Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.

E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.

É o que dá ver tanta televisão.

Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.

Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.

Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se.

Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.

[Fonte: http://www.nossosaopaulo.com.br/Reg_SP/Barra_Escolha/A_Felicidade_Realista.htm]

[3ª Série] Filosofia: Felicidade

sábado, 4 de fevereiro de 2012

                   Felicidade: Como os grandes sábios podem nos ajudar a viver melhor
                                                                                                                                              Paulo Nogueira

A filosofia existe para que as pessoas possam viver melhor. Sofrer menos. Lidar mais serenamente com as adversidades. A missão essencial da filosofia é tornar viável a busca da felicidade. Todos os grandes pensadores sublinharam esse ponto.

A filosofia apoia e consola. "O ofício da filosofia é serenar as tempestades da alma", escreveu o sábio francês Montaigne (1533-1592). Ele definiu a filosofia como a "ciência de viver bem".
Boécio (480 d.C.-524 d.C.) era rico, influente, poderoso. Era dono de uma inteligência colossal: traduziu para o latim toda a obra de Aristóteles e Platão. Tudo ia bem. Foi acusado de traição pelo imperador e condenado à morte. Recorreu à filosofia, em que era mestre, para enfrentar o suplício.
Naqueles dias, a elite intelectual costumava decorar os livros, lidos em voz alta desde a infância. Formava-se uma espécie de "biblioteca invisível". Entre a sentença e a morte, Boécio escreveu em condições precárias um livro que se tornaria um clássico da literatura ocidental: A Consolação da Filosofia. Tudo de que ele dispunha, para escrevê-lo, eram pequenas tábuas e estiletes. Isso lhe foi passado, para dentro da cela, por amigos. "A felicidade pode entrar em toda parte se suportarmos tudo sem queixas", escreveu ele.
Demócrito, pensador grego do século V a.C., escreveu um livro chamado Sobre o Prazer. Primeira frase do livro: "Ocupe-se de pouco para ser feliz". Ninguém com múltiplas tarefas pode aspirar à felicidade. Sobrecarregar a agenda equivale a sobrecarregar o espírito, e traz inevitavelmente angústia.
Epicuro, grego do período helenístico, defendia a liberdade e o prazer. Isso fez que sua doutrina fosse muitas vezes confundida com o hedonismo. Mas o prazer pregado por Epicuro era a quietude da mente e o domínio das emoções. Para ele, a função principal da filosofia é libertar o espírito.
Esqueça o passado - e não se atormente com o futuro: O dia de amanhã é fonte permanente de inquietação para as pessoas. Não se preocupar com o que vem pela frente é "uma das maiores marcas de sabedoria", segundo Epicuro
Os filósofos também apontam a aceitação dos tropeços, porque são inevitáveis, ensinado pelo filósofo Zenão, que fundou o estoicismo. É o equilíbrio, a calma diante do revés ou da vitória. O estoicismo defendia uma vida natural e simples no estilo e comportamento de vida. E tinha a lógica da aceitação e resignação, pois agastar-se com os fatos, pioravam o espírito da pessoa. Zenão não deixou livros para hoje, mas ótimas frases, como “A natureza nos deu dois ouvidos e apenas uma boca para que ouvíssemos mais e falássemos menos”.  Aceitar as coisas como elas são, é ingrediente para ser feliz.
Descartes também disse “É mais fácil mudar seus desejos do que mudar a ordem do mundo”. Exemplo: no meio de um congestionamento, não há o que ser feito, ouça uma música então. Epíteto também diz que devemos ocupar somente com o que está sobre nosso controle. O nosso estado de espírito é moldado pela forma como encaramos os fatos.
A vida feliz também é conturbada pelo medo da morte. Sêneca desprezava a morte não por morbidez, mas sim porque quem despreza vive, paradoxalmente, melhor, não pesa o terror. “Imagine que cada dia vai ser o último, e assim você aceitará com gratidão aquilo que não mais esperava”, sábio da Antiguidade.
Falam também do medo do envelhecimento e a luta inútil pela juventude eterna. Segundo Cícero “Todos os homens desejam alcançar a velhice, mas ao ficarem velhos se lamentam. Eis aí a consequência da estupidez”. E arremata “Os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos suportam facilmente a idade, ao passo que a acrimônia, o temperamento triste e a rabugice são deploráveis em qualquer idade”. Cícero ajudou a enxergar a velhice com bons olhos, mostrando que devemos permanecer intelectualmente ativos e mostra a beleza de cada fase da vida: a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice. Para ele, “a memória declina se não a cultivamos ou se carecemos de vivacidade de espírito”.

Referências: NOGUEIRA, Paulo. Felicidade: Como os grandes sábios podem nos ajudar a viver melhor. Revista Época, Edição nº 453. Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/revista/época/1,,edg76227-6010,00.html. 

[1ª Série] Tópicos de Filosofia: A importância do Mito

Fragmento de um texto, do livro O Mundo de Sofia, que fala sobre os mitos:

Por filosofia entendemos uma forma completamente nova de pensar, surgida na Grécia por volta de 600 a.C. Antes disso, todas as perguntas dos homens haviam sido respondidas pelas diferentes religiões. Essas explicações religiosas tinham sido passadas de geração para geração através dos mitos.

Um mito é a história de deuses e tem por objetivo explicar por que a vida é assim como é. Ao longo dos milênios, espalhou-se por todo o mundo uma diversificada gama de explicações mitológicas para as questões filosóficas. Os filósofos gregos tentaram provar que tais explicações não eram confiáveis.
A fim de entendermos o pensamento dos primeiros filósofos, precisamos entender primeiro o que significa ter uma visão mitológica do mundo. Vamos tomar por exemplo o mito de Tor e seu martelo, proveniente do norte europeu.

Antes de o cristianismo chegar à Noruega, acreditava-se, na Noruega, que Tor cruzava os céus numa carruagem puxada por dois bodes. E quando ele agitava seu martelo, produziam-se raios e trovões. A palavra “trovão” significa originariamente “o rugido de Tor”. Quando troveja e relampeja, geralmente também chove. E a chuva era vital para os camponeses da era dos vikinks. Assim, Tor era adorado como o deus da fertilidade. A resposta mitológica à questão de saber por que chovia era, portanto, a de que Tor agitava seu martelo. E quando caía a chuva, as sementes germinavam e as plantas cresciam nos campos.

Não se entendia por que as plantas cresciam nos campos e como davam frutos. Mas os camponeses sabiam que isto tinha alguma coisa a ver com a chuva. Além disso, todos acreditavam que a chuva tinha algo a ver com Tor. E isto fazia dele um dos deuses mais importantes do Norte da Europa.

Ao longo dos séculos, as histórias dos deuses foram sendo passadas de geração em geração. Na Grécia, os deuses eram chamados de Zeus e Apolo, Hera e Atena, Dioniso e Asclépio, Heracles e Hefaístos, apenas para citar alguns nomes.

Por volta de 700 a.C., Homero e Hesíodo registraram por escrito boa parte do tesouro da mitologia grega. Isto levou a uma situação completamente nova. É que, a partir do momento em que os mitos foram colocados no papel, já se podia discutir sobre eles.

Os primeiros filósofos gregos criticaram a mitologia descrita por Homero, porque para eles os deuses ali representados tinham muitas semelhanças com os homens. De fato, eles eram exatamente tão egoístas e traiçoeiros como qualquer um de nós. Pela primeira vez na história da humanidade foi dito claramente que os mitos talvez não passassem de frutos da imaginação do homem.

Um exemplo dessa crítica aos mitos pode ser encontrado no filósofo Xenófanes, nascido por volta de 570 a.C. Para ele, as pessoas teriam criado os deuses à sua própria imagem e semelhança: “Os mortais acreditam que os deuses nascem, falam e se vestem de forma semelhante à sua própria… Os etíopes imaginam seus deuses pretos e de nariz achatado; os tracianos, ao contrário, os veem ruivos e de olhos azuis… Se as vacas, cavalos ou leões tivessem mãos e com elas pudessem pintar e produzir obras como os homens, eles criariam e representariam suas divindades à sua imagem e semelhança: os deuses dos cavalos teriam feições equinas, os das vacas se pareceriam com elas, e assim por diante”.

Referências: GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. Cia. das Letras: São Paulo, 1998.

Para aqueles que queiram saber mais sobre a mitologia nórdica e Thor, assistam ao documentário do History Channel:


Bons estudos!

Profª Karoline

[1ª Série] Filosofia: Origem da Filosofia

Boa tarde, meus alunos!

Conforme prometido, segue o texto que foi passado esta semana, mas não foi possível concluir:

Origem da palavra “filosofia”

A palavra “filosofia”, assim como a própria área de conhecimento vem de origem grega. Philo, em grego, significa amizade, amor e Sophia significa sabedora. Portanto, filosofia etimologicamente significa amor à sabedoria.

“... a sabedoria pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la tornando-se filósofo” (Pitágoras – sec. V a.C.). O filósofo é aquele que é movido pelo desejo de observar, contemplar, julgar e avaliar o mundo e suas ações.

O que é filosofia?

A filosofia é um modo de pensar, é uma postura diante do mundo. A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, fechado em si mesmo. Ela é, antes de tudo, um modo de se colocar diante da realidade, procurando refletir sobre os acontecimentos a partir de certas posições teóricas. Essa reflexão permite ir além da pura aparência dos fenômenos, em busca de suas raízes e de sua contextualização em um horizonte amplo, que abrange valores sociais, históricos, econômicos, políticos, éticos e estéticos. Por essa razão, ela pode se voltar para qualquer objeto. Pode pensar a ciência, seus valores, seus métodos, seus mitos; pode pensar a religião; pode pensar a arte; pode pensar o próprio homem em sua vida cotidiana. Uma história em quadrinhos ou uma canção popular podem ser objeto da reflexão filosófica.

A filosofia parte do que existe, critica, coloca em dúvida, faz perguntas importunas, abre a porta das possibilidades, faz-nos entrever outros mundos e outros modos de compreender a vida. Ela é muitas vezes entendida como incômoda, porque questiona o modo de ser das pessoas, das culturas, do mundo.

O que busca a filosofia?

Conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana;
A origem e as caudas do mundo e suas transformações;
A origem e as causas das ações humanas;
A origem do próprio pensamento.

Profª. Karoline

[1ª Série] Filosofia: O que é Filosofia?

Bom dia, queridos alunos!

As turmas de 1º ano infelizmente ainda não receberam os livros didáticos. Motivo: o número de livros enviados pelo governo não foi suficiente. A nossa diretora já solicitou mais livros. Enquanto eles não chegam, vamos dar continuidade aos nossos estudos da melhor forma possível.

Esta semana estamos estudando a respeito da origem, o que é e o que busca a Filosofia.

Na próxima semana continuaremos estudando sobre a origem da Filosofia.

Assistam ao vídeo que segue: 




Profª Karoline