Profª de Filosofia e Sociologia da Rede Estadual de Goiás desde 2010.
"Quem educa com carinho e seriedade, educa para sempre".
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[1ª Série] Tópicos de Filosofia: Parmênides e o ser e o não-ser

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Ser e não-ser
Parmênides, a verdade e o paradoxo

Josué Cândido da Silva*


O filósofo alemão Friedrich Nietzsche diz que se Heráclito é o filósofo do fogo, Parmênides é o filósofo do gelo, vertendo em torno de si uma luz fria e penetrante.

Nietzsche descreve assim Parmênides de Eléia (cerca de 530 a 460 a. C.), pelo fato de esse filósofo ter fixado no ser imóvel e uno a fonte de tudo o que é.

Parmênides narra em seu poema o encontro com a deusa Verdade, que o instrui a se afastar do caminho sensível, uma via de confusão, que leva as massas indecisas a acreditarem que ser e não-ser são iguais.

Ora, apenas o ser pode ser pensado, já que o não-ser não é. Se eu não consigo ter uma idéia do que a coisa é, não posso pensá-la - e o que não pode ser pensado não é ser. Daí Parmênides conclui que só o ser é - e que o não-ser não é. Dessa verdade ele deduz outras:

1) O ser é todo inteiro - se o ser tivesse partes, algo nele seria separado, não fazendo parte do ser, mas isso seria não-ser. Conseqüentemente, o ser, sendo uno e indivisível, não pode ter partes.

2) O ser é imutável - o ser não pode ter surgido do não-ser ou tornar-se não-ser, já que o ser só pode ser idêntico a si mesmo - e não pode ser e não-ser ao mesmo tempo. Acreditar que o ser foi gerado significa dizer que houve um tempo em que o ser era não-ser, o que é contraditório. Logo, o ser é eterno, sem começo nem fim.

O mesmo se aplica ao dizer e ao pensar. Só podemos pensar no que é, pois só o que é exprime-se em palavras. Pensar em nada é não pensar; dizer nada é ficar calado.

A verdade muitas vezes é paradoxal
O caminho do ser é o caminho da verdade, que deve ser una e sempre idêntica a si mesma. Por exemplo, dois mais dois são quatro. Não importa o quanto as pessoas mudem de opinião, essa verdade continua inabalável - e mesmo as pessoas mais irascíveis são obrigadas a concordar com ela.

Algo depõe, entretanto, contra a verdade do ser revelada a Parmênides: no mundo sensível não vemos nada assim eterno e imutável, mas apenas uma pluralidade em constante devir (ou seja, em um fluxo permanente de mudança).
Ora, mas quem disse que a verdade pode ser apreendida pelos sentidos? Heráclito já não havia indicado que, por trás da desordem aparente das coisas, há um Logos que tudo ordena?

Da mesma forma, para Parmênides, a verdade não precisa estar em conformidade com os fenômenos, mas, ao contrário, a verdade muitas vezes é paradoxal, ou seja, contrária ao que a opinião ou os sentidos indicam. Enquanto os pitagóricos advogavam a existência de uma pluralidade, Parmênides afirma que tudo é uno e contínuo.

[2ª Série] Filosofia: A dúvida e a busca pela verdade

A dúvida e a busca da verdade
Josué Cândido da Silva*

Se alguém lhe perguntasse "O que você conhece?", você poderia pensar em uma porção de coisas, a maioria delas adquiridas em sua experiência cotidiana. Mas se a pessoa insistisse e perguntasse "Algo do que você sabe é realmente verdade? Apostaria sua vida nisso?", essas questões complicariam um bocado as coisas.

Eu, por exemplo, poderia dizer que tenho certeza que sou filho dos meus pais, mas talvez eu tivesse sido adotado ou trocado na maternidade e estar enganado a esse respeito. Poderia ainda estar enganado sobre uma série de outras coisas que até então julgava certas. E se reparar direito, tudo o que eu tenho são crenças, algumas até muito razoáveis, mas nada de que eu possa dizer que é uma verdade irrefutável. Percebo, então, que me falta um parâmetro para examinar as minhas crenças e verificar quais são realmente certas e quais são falsas.

Condições universais de validade
Durante a história da filosofia, vários foram os filósofos que tentaram estabelecer as condições para que algo fosse tomado como absolutamente verdadeiro, isto é, uma verdade que independesse de fatores circunstanciais e que fosse algo que não fosse verdadeiro para mim ou para um grupo de pessoas, mas para todos os seres racionais.

Você deve estar cansado de ver por aí grupos de pessoas com crenças estranhas, que dizem que eles estão certos e todos os outros enganados. Nesse caso, como decidir quem está certo? Votando? Mas se a maioria estiver errada e o pequeno grupo estiver certo, nunca conheceremos a verdade porque eles sempre perderão nas votações. É preciso que se trate de uma verdade universal, isto é, válida para todos, tanto para a maioria quanto para as minorias. Portanto, o que os filósofos investigam são as condições universais de validade, aquelas condições que independem das opiniões particulares que eu ou você possamos ter.

Ceticismo
Na investigação sobre as condições de validade do nosso conhecimento um grupo de filósofos merece destaque: os céticos. O termo cético vem da palavra grega skepsis, que significa "exame". Atualmente, dizemos que uma pessoa cética é alguém que não acredita em nada, mas não é bem assim. Um filósofo cético é aquele que coloca suas crenças e as dos outros sob exame, a fim de verificar se elas são realmente dignas de crédito ou não.

Pirro de Elis (360-275 a.C.) é considerado o fundador do ceticismo. Segundo ele, não podemos ter posições definitivas sobre determinado assunto, pois mesmo pessoas muito sábias podem ter posições absolutamente opostas sobre um mesmo tema e ótimos argumentos para fundamentar suas posições. Nesse caso, Pirro nos aconselha a suspensão do juízo e a mantermos nossa mente tranqüila (ataraxia). Ao invés de enfrentarmos o desgaste de acalorados debates que não produzirão certeza alguma, devemos manter silêncio (apraxia) e preservar uma atitude de suspeita diante de qualquer tipo de dogmatismo.

Depois de Pirro, muitos outros filósofos tornaram o ceticismo uma das mais importantes correntes filosóficas até os dias de hoje. Atualmente, alguns céticos defendem o probabilismo ou falibilismo, ou seja, na impossibilidade de encontrarmos verdades absolutas, seja pelas limitações de nossos sentidos e intelecto, seja pela complexidade da realidade, devemos tratar nossas crenças sempre como provisórias, como quem anda em gelo fino.

Desse modo, um cético nunca seria pego de surpresa se algo que todos acreditavam ser verdade se revelasse falso no futuro. Por outro lado, reconhecer que as verdades são provisórias não significa uma completa inação. Sabemos que os remédios são falhos, mas são a única coisa que temos para combater as doenças.

Isso também vale para o campo da ética. O filósofo Montaigne propunha que vivêssemos em harmonia com os costumes de nosso povo ou cultura, pois embora eles sejam falhos, são tão falhos quanto os de qualquer outro povo, não havendo razão para preferir este a aquele.

Despertar do sono dogmático
Conta a lenda que Pirro morreu enquanto dava aula de olhos vendados. Um aluno o teria alertado quanto ao precipício à sua frente. Cético, Pirro desconfiou do aluno e caiu. Essa lenda, obviamente, pretende mostrar os perigos de se duvidar de tudo. Mas será que um cético autêntico não duvidaria também de suas próprias dúvidas?

Odiado por alguns, o cético é como a abelha que aferroa o boi do conhecimento, retirando-o da mesmice das idéias prontas e acabadas, nos provocando, por meio da dúvida, a investigar a fundo os pressupostos de nossas crenças; ou, como diria Kant, o cético é aquele que nos desperta do nosso sono dogmático para lembrar-nos que pensar não é um fim, mas uma atividade.

[2ª Série] Filosofia: Dogmatismo e Ceticismo

sábado, 26 de maio de 2012

O dogmatismo do senso comum pode ser compreendido como aqueles argumentos que aceitamos como certezas sem questionamentos. A pessoa dogmática fixa-se na ideia que supõe ser verdadeira e abre mão da dúvida, tentando impor aos demais o seu ponto de vista. Exemplos claros do dogmatismo do senso comum são encontrados na política mundial, como o totalitarismo soviético e o regime político nazista na Alemanha do século XX. Ambos os regimes políticos, tiveram como fundamento doutrinas políticas que pretendiam ser as únicas maneiras verdadeiras de se agir. Pelo convencimento de suas teorias, conquistaram multidões ao ponto de impô-la aos outros, de tal forma que, por meio da força e do uso da violência, praticaram crimes à humanidade, por conta daquilo que criam ser a verdade.
O dogmatismo filosófico diz respeito àqueles filósofos que estão convencidos de que a ração pode alcançar a certeza absoluta, a verdade absoluta. Imannuel Kant chama os filósofos anteriores a ele de dogmáticos. Diz que estes “não acordaram do sono dogmático”. Estes filósofos, segundo Kant, ainda mantêm a confiança não questionada no poder que a razão tem de conhecer. Kant diz ainda que não podemos conhecer as coisas em si, mas apenas os fenômenos, isto é, como elas nos apresentam.
Para Kant, o dogmatismo é "toda atitude de conhecimento que consiste em acreditar na posse da certeza ou da verdade antes de fazer a crítica da faculdade de conhecer".
São exemplos de filósofos dogmáticos, segundo Kant: Platão, Aristóteles, Descartes.

Ceticismo

Os céticos radicais dizem que é impossível a nós o conhecimento verdadeiro sobre as coisas. Os moderados suspende provisoriamente qualquer juízo ou admite apenas uma forma restrita de conhecimento, reconhecendo os limites para a compreensão da verdade. Até para os mais radicais, mesmo que seja impossível encontrar a certeza, não se deve abandonar a busca pela verdade.

Górgias, sofista contemporâneo a Platão foi um cético importante da antiguidade. Segundo ele, 1) Nada existe; 2) Mesmo se algo existisse, sobre isso nada poderia ser sabido; 3) Mesmo se se pudesse saber algo, o conhecimento acerca disso não poderia ser comunicado a outros; 4) Mesmo que pudesse ser comunicado, não poderia ser compreendido.

Pirro de Élida ele distingue o que é o bem por natureza e o que é o bem pelas convenções humanas e chega à conclusão de que não existem coisas verdadeiras ou coisas falsas, não existe também na natureza conceitos como a feiúra e a beleza ou a bondade e a maldade, esses conceitos todos são criações dos homens e ele os nega por serem somente uma convenção, um costume. Por isso não podemos fazer juízos sobre as coisas. Além do mais é impossível afirmar se algo é realmente falso ou verdadeiro, se uma atitude é justa ou injusta. Todos esses conceitos vão depender do que está convencionada nas relações sociais e não da natureza, e essa não faz convenções. A atitude coerente do sábio é a suspensão do juízo e, como consequência prática, a aceitação com serenidade do fato de não poder discernir o verdadeiro do falso.

Montaigne, no Renascimento retoma o ceticismo. O filósofo leva em conta a influência de fatores pessoais, sociais e culturais na formação das opiniões, sempre tão instáveis e diversificadas. Ele valoriza a subjetividade.

[1ª Série] Filosofia: Sócrates (resuminho)

Resumo - Sócrates
Detalhes sobre a vida de Sócrates derivam de três fontes contemporâneas: os diálogos de Platão, as peças de Aristófanes e os diálogos de Xenofonte. E que não há evidência de que Sócrates tenha ele mesmo publicado alguma obra.

Seu pai era um escultor especialista em entalhar colunas nos templos, e Fenarete, uma parteira (ambos eram parentes de Aristides, o Justo).

Durante sua infância, ajudou seu pai no ofício de escultor, porém, muitas vezes seus amigos o zombavam, pela sua incapacidade de trabalhar o mármore.

Seu destino foi apontado, pelo próprio Oráculo de Delfos, como um grande educador, mas foi somente junto com a sua mãe que ele pôde descobrir sua verdadeira vocação.

A vocação: Sócrates concluiu que, de certa forma, ele também era um parteiro. O conhecimento está dentro das pessoas (que são capazes de aprender por si mesmas). Porém, eu posso ajudar no nascimento deste conhecimento. Concluiu ele. Por isso, até hoje os ensinamentos de Sócrates são conhecidos por maiêutica (que significa parteira em grego).

A maiêutica funcionava a partir de dois momentos essenciais: um primeiro em que Sócrates levava os seus interlocutores a pôr em causa as suas próprias concepções e teorias acerca de algum assunto; e um segundo momento em que conduzia os interlocutores a uma nova perspectiva acerca do tema em abordagem. Daí que a maiêutica consistisse num autêntico parto de ideias, pois, mediante o questionamento dos seus interlocutores, Sócrates levava-os a colocar em causa os seus "preconceitos" acerca de determinado assunto, conduzindo-os a novas ideias acerca do tema em discussão, reconhecendo assim a sua ignorância e gerando novas ideias, mais próximas da verdade.

Sócrates defendia que se deve sempre dar mais ênfase à procura do que se não sabe, do que transmitir o que se julga saber, privilegiando a investigação permanente.

Sócrates tinha o hábito de debater e dialogar com as pessoas de sua cidade. Ao contrário de seus predecessores, ele não fundou uma escola, preferindo também realizar seu trabalho em locais públicos (principalmente nas praças públicas e ginásios), agindo de forma descontraída e descompromissada, dialogando com todas as pessoas, o que fascinava jovens, mulheres e políticos de sua época.

Platão afirma que Sócrates não recebia pagamento por suas aulas. Sua pobreza era prova de que não era um sofista.

O julgamento e a execução de Sócrates são eventos centrais da obra de Platão (Apologia e Críton). Sócrates admitiu que poderia ter evitado sua condenação a morte, bebendo o veneno chamado cicuta, se tivesse desistido da vida justa. Mesmo depois de sua condenação, ele poderia ter evitado sua morte se tivesse escapado com a ajuda de amigos.

Platão considerou que Sócrates foi condenado por questões evidentemente políticas. Por seu lado, Xenofonte atribuiu a acusação a Sócrates a um fato de ordem pessoal, pelo desejo de vingança. O propósito não era a morte de Sócrates mas sim afastá-lo de Atenas e se isso não ocorreu deveu-se à teimosia de Sócrates.

[1ª Série] Tópicos de Filosofia: Pré-socráticos

Filósofos pré-socráticos
 
Filósofos pré-socráticos é o nome pelo qual são conhecidos aqueles filósofos da Grécia Antiga que, como sugere o nome, antecederam a Sócrates. Essa divisão propriamente, se dá mais devido ao objeto de sua filosofia, em relação à novidade introduzida por Platão, do que à cronologia - visto que, temporalmente, alguns dos ditos pré-socráticos são contemporâneos a Sócrates, ou mesmo posteriores a ele (como no caso de alguns sofistas).

Primeiramente, os pré-socráticos, também chamados naturalistas ou filósofos da physis (natureza), tinham como escopo especulativo o problema cosmológico, ou cosmo-ontológico, e buscavam o princípio (ou arché) das coisas.
Posteriormente, com a questão do princípio fundamental único entrando em crise, surge a sofística, e o foco muda do cosmo para o homem e o problema moral.

Os principais filósofos pré-socráticos (e suas escolas) foram:
    * Escola Jônica: Tales de Mileto, Anaximenes de Mileto, Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso;
    * Escola Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento;
    * Escola Eleata: Xenófanes, Parmênides de Eléia, Zenão de Eléia e Melisso de Samos.
   * Escola da Pluralidade: Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazômena, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera.


Parmênides

Parmênides de Eléia (530 - 460 a.C): é um filósofo que expôs seus pensamentos através da poesia em estilo homérico, mas nem por isso deixa de usar rigorosos argumentos dedutivos em suas colocações. Parmênides é o fundador da escola de Eléia e despertou grande admiração de Platão.

Dos seus poemas restaram-nos 154 versos e eles dividem-se em três partes. A primeira é uma introdução onde ele coloca como chegou às suas revelações. O filósofo conta a sua viagem imaginária pela morada da deusa da justiça que o conduzirá ao coração da verdade. A deusa mostra a Parmênides o caminho da opinião que conduz à aparência e ao engano e o caminho da verdade que conduz à sabedoria do ser. Cada um desses caminhos será tratado nas duas  partes seguintes.

Na segunda parte ele argumenta que o que é é diferente do que geralmente os homens supõem que seja. Nessa parte, intitulada Caminho da Verdade (alétheia), ele coloca o que a razão nos diz e ele faz isso através da metafísica dedutiva. Começa por premissas que ele acredita serem verdadeiras e dedutivamente ele chega a conclusões que também devem ser verdadeiras. Seus argumentos lógicos reconstruídos podem ser expressos da seguinte forma:

1 - Ou algo existe ou algo não existe.
2 - Se é possível pensar em algo, esse algo pode existir.
3 - Nada não pode existir
4 - Se podemos pensar em algo esse algo não é nada.
5 - Se podemos pensar em algo esse algo tem quem ser alguma coisa.
6 - Se podemos pensar em algo esse algo tem que existir.

Na sequência Parmênides expõe que somente nos resta dizer que esse algo é, pensar ou dizer que esse algo não é é impossível. Esse algo que é tem portanto obrigatoriamente que ser incriado e imperecível.

Na terceira parte, intitulada Caminho da Opinião (doxa), sobre a qual não podemos ter nenhuma certeza, ele faz uma descrição de como ele vê o mundo. Para ele essa sua descrição é falsa e enganosa pois é simplesmente o resultado de uma ordenação de palavras, mas essa ordenação é a melhor coisa que os homens podem fazer, sendo portanto a melhor descrição apresentada. Aqui ele expõe as crenças das pessoas simples. São conjuntos de teorias físicas como o dualismo entre o limitado e o ilimitado, que ele relaciona com a luz e as trevas, fazendo da realidade física uma mistura e uma luta entre esses dois elementos. É através dessa divisão que ele ordena as qualidades. Na comparação entre a luz e a escuridão, a escuridão é a negação da luz. Diferenciou as qualidades da natureza em positivas e negativas tomando por base outros opostos como vida e morte, fogo e terra, masculino e feminino, quente e frio, ativo e passivo, leve e pesado. Assim para ele nosso mundo se divide em duas esferas, as de qualidade positiva (luz, vida, fogo, masculino, quente, ativo, leve) e as de qualidade negativa (escuridão, morte, terra, feminino, frio, passivo, pesado). As qualidades negativas são uma negação das qualidades positivas e Parmênides utiliza os termos "não ser" para o negativo e "ser" para o positivo.

Parmênides via as mudanças físicas que ocorrem no mundo como uma mistura onde participam o ser e o não-ser, resultando  num vir-a-ser. A mistura é feita pelo desejo e quando o desejo é satisfeito o ser e o não-ser novamente se separam. O filósofo conclui assim que a mudança é uma ilusão. Somente existem o ser e o não-ser, o vir-a-ser é portanto uma ilusão dos nossos sentidos.
 
Na terceira parte, intitulada Caminho da Opinião (doxa), sobre a qual não podemos ter nenhuma certeza, ele faz uma descrição de como ele vê o mundo. Para ele essa sua descrição é falsa e enganosa pois é simplesmente o resultado de uma ordenação de palavras, mas essa ordenação é a melhor coisa que os homens podem fazer, sendo portanto a melhor descrição apresentada. Aqui ele expõe as crenças das pessoas simples. São conjuntos de teorias físicas como o dualismo entre o limitado e o ilimitado, que ele relaciona com a luz e as trevas, fazendo da realidade física uma mistura e uma luta entre esses dois elementos. É através dessa divisão que ele ordena as qualidades. Na comparação entre a luz e a escuridão, a escuridão é a negação da luz. Diferenciou as qualidades da natureza em positivas e negativas tomando por base outros opostos como vida e morte, fogo e terra, masculino e feminino, quente e frio, ativo e passivo, leve e pesado. Assim para ele nosso mundo se divide em duas esferas, as de qualidade positiva (luz, vida, fogo, masculino, quente, ativo, leve) e as de qualidade negativa (escuridão, morte, terra, feminino, frio, passivo, pesado). As qualidades negativas são uma negação das qualidades positivas e Parmênides utiliza os termos "não ser" para o negativo e "ser" para o positivo.

Parmênides via as mudanças físicas que ocorrem no mundo como uma mistura onde participam o ser e o não-ser, resultando  num vir-a-ser. A mistura é feita pelo desejo e quando o desejo é satisfeito o ser e o não-ser novamente se separam. O filósofo conclui assim que a mudança é uma ilusão. Somente existem o ser e o não-ser, o vir-a-ser é portanto uma ilusão dos nossos sentidos.

A filosofia de Parmênides se apresenta como um contraste entre a verdade e a aparência. A aparência é percebida pelos sentidos que nos mostram o ser e o não ser e nos levam a diversos erros. Já a verdade somente pode ser buscada pela razão, que para Parmênides demonstra que não podemos pensar o não ser, pois não podemos pensar sem que esse pensar seja sobre algo. Pensar sobre nada é não pensar da mesma forma que dizer nada é não dizer. Somente podemos pensar e expressar o que pensamos através de um objeto e esse objeto já é algo, já é um ser. Ele conclui que o ser é e não pode não ser e através dessa ideia ele expressa sua principal tese filosófica que vai dirigir toda sua investigação racional. Ele cria assim os principais fundamentos da ontologia que é vista como metafísica pois o ser não é somente o ser da natureza, mas também o ser do homem e das suas ações, e mais ainda, é o ser de qualquer coisa que possa ser pensada.

Sentenças:
- O ser é e não pode não ser.
- O pensamento e o ser são a mesma coisa.
- O ser é imóvel porque se se movesse poderia vir-a-ser e então seria e não seria ao mesmo tempo.

[1ª Série] Filosofia: Sócrates

Passar o texto sobre Sócrates:

Sócrates viveu em Atenas no século V a.C. Dizem que era um homem feio, mas quando falava, exercia estranho fascínio. Procurado pelos jovens, passava horas discutindo na praça pública. Interpelava os transeuntes, dizendo-se ignorante, e fazia perguntas aos que julgavam entender determinado assunto. Ao final, o interlocutor concluía não haver saída senão reconhecer a própria ignorância. Dessa maneira, Sócrates conseguiu alguns discípulos, mas também rancorosos inimigos.

Essa primeira parte do seu método, conhecida como ironia, consiste em destruir a ilusão do conhecimento. A ela se segue a maiêutica, centrada na investigação sobre os conceitos. O interessante nesse método é que nem sempre as discussões levam de fato a uma conclusão efetiva. Sabemos disso não pelo próprio Sócrates, que nunca escreveu livros, mas por seus discípulos, sobretudo Platão e Xenofonte.

O destino de Sócrates é conhecido: acusado de corromper a mocidade e negar os deuses oficiais da cidade, foi condenado à morte. A história de sua defesa e condenação à morte é contada no diálogo de Platão, Defesa de Sócrates.

No sentido comum, usamos a ironia para dizer algo e expressar exatamente ao contrario. Por exemplo: afirmamos que alguma coisa é bonita, mas na verdade insinuamos que é muito feia. Diferente para Sócrates, a ironia consiste em perguntar, simulando não saber. Desse modo, o interlecutor expõe sua opinião, à qual Sócrates contrapõe argumentos que o fazem perceber a ilusão do conhecimento.

A maiêutica centra-se na investigação dos conceitos. Para tanto, Sócrates faz novas perguntas, simulando para que o interlecutor possa refletir. Portanto não ensina, mas o interlecutor descobre o que já sabia. Sócrates dizia que, enquanto sua mãe fazia parto de corpos, ele ajudava a fazer, tendo por trazer à luz idéias.

O interessante nesse método é que nem sempre as discussões levam de fato a uma conclusão efetiva, mas ainda trazem o benefício de cada um abandonar a sua doxa, termo grego que desígna a opinião, um conhecimento impreciso e sem fundamento. A partir daí, é possível abandonar o que sabia sem crítica e atingir o conhecimento verdadeiro.

"Só sei que nada sei", podemos entender como a máxima socrática, surgiu como ponto de partida para o filosofar. Podemos fazer algumas observações:
  • Sócrates não esta voltado para si mesmo como pensador alheio ao mundo e sim na praça pública.
  • Seu conhecimento não deriva de um saber acabado, porque é vivo e em processo de fazer, tendo por conteúdo a experiência cotidiana.
  • Guia-se pelo princípio de que nada sabe e, dessa perplexidade primeira, inicia a interrogação e o questionamento de tudo que parece óbvio.
  • Ao criticar o saber dogmático (no contexto, saber baseado em crença não justificada, sem questionamentos), não quer com isso dizer que ele próprio seja detentor de um saber. Desperta as consciências adormecidas, mas não se considera um "farol" que ilumina: o caminho novo deve ser construído pela discussão, que é intersubjetiva (entre sujeitos, entre diferentes pessoas) e pela busca das soluções.
  •  Sócrates é "subversivo" porque "desnorteia", perturba a ordem do conhecedor e do fazer, e por isso incomoda tanto os poderosos.

Para concluir:

Vimos que Sócrates faz muitas perguntas, questiona, busca interlocutores a fim de compartilhar e discutir suas indagações. Mas nem sempre esses diálogos chegavam a uma resposta definitiva. Por isso costumamos dizer que a filosofia é a procura mas não a posse, da verdade.