Profª de Filosofia e Sociologia da Rede Estadual de Goiás desde 2010.
"Quem educa com carinho e seriedade, educa para sempre".
Comece onde você está. Use o que você tem. Faça o que puder.
 

[3ª Série] Filosofia: Sartre e Existencialismo

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Bom dia, turmas!
O texto que segue é o mesmo que será utilizado nas próximas duas semanas de aula para a compreensão de alguns elementos da filosofia existencialista de Jean-Paul Sartre. Não se esqueçam de copiá-lo ou imprimí-lo (e colá-lo) no caderno, pois será de suma importância para o entendimento das próximas aulas. Esse conteúdo também será abordado na Avaliação Bimestral que, nos próximos dias, será divulgada a data. Portanto, não percam tempo.
O livro didático também traz informaçõe sobre o mesmo tema, mas de forma muito superficial.

sartre-1939-e822-46235
Sartre e o Existencialismo
Jean-Paul Sartre foi um filósofo existencialista francês que viveu de 1905 a 1980. Foi nos anos 40, logo depois da guerra, que ele desenvolveu a sua filosofia. Mais tarde aliou-se ao movimento marxista na França, mas nunca chegou a se filiar a um partido.
O conceito de humanismo e existência
Sartre disse: “O existencialismo é humanismo”. Com isto ele queria dizer que o existencialismo tem como ponto de partida única e exclusivamente o homem. Talvez possamos acrescentar que o humanismo de Sartre vê a situação do homem de uma maneira diferente e mais sombria do que o humanismo que conhecemos do Renascimento.
Sartre representava aquilo que podemos chamar de existencialismo ateu. Podemos considerar sua filosofia uma análise impiedosa da situação humana quando “Deus está morto”. A famosa expressão “Deus está morto” é de Nietzsche.

O conceito-chave por excelência na filosofia de Sartre é a palavra existência. Aqui, existência não significa simplesmente “estar vivo”. As plantas e os animais também “existem” no sentido de que estão vivos, mas são poupados da indagação sobre o que isto significa. O ser humano é o único ser vivo consciente de sua existência. Sartre diz que as coisas físicas só são “em si”, ao passo que o homem também é “para si”. Ser uma pessoa é, portanto, diferente de ser uma coisa.
A existência precede a essência Sartre afirma ainda que a existência do homem precede todo e qualquer sentido desta mesma existência. Em outras palavras, o fato de que sou é anterior à questão de saber o que sou. “A existência precede a essência”, ele dizia.
Entendemos por “essência” aquilo que uma coisa realmente é, a “natureza” dessa coisa. Para Sartre, porém, o homem não possui tal natureza. O homem precisa primeiro criar-se a si mesmo. Ele precisa criar sua própria natureza, sua própria essência, já que ela não lhe é dada de antemão.

Por toda a história da filosofia, os filósofos tentaram responder à pergunta sobre o que o homem é, ou o que é a natureza humana. Sartre, ao contrário, acha que o homem não possui esta “natureza” eterna a que se apegar. Por isso é que, para Sartre, não faz sentido perguntar pelo sentido da vida em geral. Em outras palavras, estamos condenados à improvisação. Somos como atores que são colocados num palco sem termos decorado um papel, sem um roteiro definido e sem um “ponto” para nos sussurrar ao ouvido o que devemos dizer ou fazer. Nós mesmos temos de decidir como queremos viver.
Mas Sartre diz que quando o homem percebe que existe e que um dia terá de morrer, e sobretudo quando não vê qualquer sentido nisto tudo, ele passa a experimentar o medo.
Sartre também diz que o homem se sente alienado num mundo sem sentido. Quando descreve a “alienação” do homem, Sartre retoma os pontos centrais do pensamento de Hegel e de Marx. O sentimento do homem de ser um estranho no mundo, diz Sartre, leva a uma sensação de desespero, tédio, náusea e absurdidade.
Estamos condenados a sermos livres Sartre descreve o homem urbano do século XX. Os humanistas do Renascimento tinham propagado em tom de triunfo a liberdade e a independência do homem. Para Sartre, a liberdade do homem era como uma maldição. “O homem está condenado à liberdade”, ele dizia. Condenado porque não se criou e, não obstante, é livre. E uma vez atirado ao mundo, passa a ser responsável por tudo o que faz.
É exatamente este o ponto central em Sartre. Acontece que somos indivíduos livres e nossa liberdade nos condena a tomarmos decisões durante toda a nossa vida. Não existem valores ou regras eternas, a partir das quais podemos nos guiar. E isto torna mais importantes nossas decisões, nossas escolhas. Sartre chama a atenção precisamente para o fato de o homem nunca poder negar sua responsabilidade pelo que faz. Por esta razão, não podemos simplesmente colocar de lado nossa responsabilidade e dizer que “temos” de ir trabalhar, ou então que “temos” de nos pautar por certas expectativas burguesas quanto ao modo como devemos viver. Aquele que assim procede mescla-se a uma massa anônima e se transforma em parte impessoal dela. Ele foge de si mesmo e se refugia na mentira. De outra parte, a liberdade do homem nos obriga a fazer de nós alguma coisa, a ter uma existência “autêntica” ou verdadeira.

O mesmo vale para as nossas decisões éticas. Nunca podemos responsabilizar a natureza e a fraqueza humanas, ou qualquer outra coisa, pelas decisões que tomamos. Muitas vezes acontece de homens já bem crescidinhos se comportarem como porcos e colocarem a culpa no “velho Adão” que pretensamente trazem dentro de si. Mas este “velho Adão” não existe. Ele não passa de uma figura de que nos valemos para fugir à responsabilidade por nossos próprios atos.
Sartre diz que a vida deve ter um sentido. Isto é um imperativo. Só que nós mesmos é que temos de criar este sentido para a nossa própria vida. Existir significa criar a sua própria vida.
Sartre tentou mostrar que a consciência não é nada até que perceba alguma coisa. Pois a consciência é sempre consciência de alguma coisa. E depende de nós, e também de nosso meio, o que seja esta “alguma coisa”. Nós mesmos contribuímos para o que sentimos e percebemos, pois somos nós que escolhemos aquilo que nos é importante.

Duas pessoas podem estar presentes num mesmo recinto e percebê-lo de maneira totalmente diversa. Isto porque deixamos nossa opinião ou nossos interesses agirem quando estamos percebendo o mundo à nossa volta. Uma mulher grávida, por exemplo, pode ter a sensação de ver mulheres grávidas por toda a parte. Isto não significa que antes não havia mulheres grávidas, mas a gravidez tem agora um novo sentido para ela. Pessoas doentes veem ambulâncias por toda a parte…Talvez a nossa própria vida influencie o modo como percebemos as coisas num recinto. Se uma coisa não me é importante, é provável que eu nem a perceba.

[3ª Série] Sociologia: Indústria Cultural

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Galerinha, segue abaixo os tópicos sobre o conteúdo Indústria Cultural que combinei de postar aqui.

    Manifestações culturais transformadas em produtos – originado principalmente por conta do sistema econômico-político-cultural capitalista.
    Empresas, instituições e redes de mídia que produzem, distribuem e transmitem produtos culturais.
    No Brasil, apesar da diversidade cultural existente, costuma-se focar conteúdos de culturas estrangeiras em detrimento de nosso conteúdo nacional.
    A produção da indústria cultural é direcionada para o retorno de lucros tendo como base padrões de imagem cultural pré–estabelecida e capazes de conquistar o interesse das massas sem trabalhar o caráter crítico do expectador.
    Grande elemento da indústria cultural é a Televisão que apresenta pontos positivos em possuir ótima cobertura geográfica, penetração de público e variedade de conteúdo em vários horários, mas ao mesmo tempo apresenta conteúdos sensacionalistas e que escapam do consciente do expectador.

O filósofo e sociólogo alemão Adorno  diz que “na indústria cultural, tudo se torna negócio. Enquanto negócios, seus fins comerciais são realizados por meio de sistemática e programada exploração de bens considerados comerciais”.

Negócio leva ao consumo e as consequências do consumo vão muito além do que a nossa visão pode alcançar. Lembrem-se do vídeo “História das Coisas” que assistimos esta semana:

Exploração de recursos naturais de forma indiscriminada –> pessoas trabalhando em condições insalubres em indústrias que além de as explor por conta da mão de obra barata,  contaminam o ar, a terra e as águas com seus resíduos tóxicos –> para produzirem produtos que serão consumidos por nós –> que serão descartados bem antes do seu tempo de terminar a vída útil por conta da vontade de comprar produtos mais novos –> que logo vão para o lixo –> que serão depositados em aterros ou encinerados e depois depositados em aterros, poluindo ainda mais nossos recursos naturais que já estão escassos.

Para aqueles que queiram assistí-lo novamente:
A História das Coisas

[3ª Série] Filosofia: primeiros tópicos sobre Filosofia Cristã

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Para aqueles que, por algum motivo, não copiaram o esquema apresentado nas primeiras aulas, segue abaixo.

Lembrem-se que é importantíssimo manter o caderno atualizado e completo!

Bons estudos!
Profª Karoline
Nova Imagem (4)

[1ª Série] Filosofia: Primeiro texto passado

Galerinha, este foi o primeiro texto passado em sala, na aula de Filosofia. No entanto, por causa da Avaliação Diagnóstica ocorrida no dia  05/02, algumas turmas não tiveram acesso a este material. Sendo assim, aqueles que não tem este texto no caderno, favor copiá-lo ou imprimí-lo (e colá-lo).

Lembrando que, tudo o que é passado em sala, seja em forma de textos, tópicos, atividades ou explicação poderá ser cobrado nas avaliações.

Um abraço,

Profª Karoline
Origem da palavra “filosofia”
A palavra “filosofia”, assim como a própria área de conhecimento vem de origem grega. Philo, em grego, significa amizade, amor e Sophia significa sabedora. Portanto, Filosofia etimologicamente significa amor à sabedoria. “... a sabedoria pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la tornando-se filósofo” (Pitágoras – sec. V A.C.). O filósofo é aquele que é movido pelo desejo de observar, contemplar, julgar e avaliar o mundo e suas ações.
A Filosofia ocidental teve a sua origem no século VI A.C (2.600 anos atrás!). Até então os antigos buscavam compreender a realidade por meio dos mitos. Por exemplo, para o surgimento da chuva ou da alternância das estações, os antigos criavam mitos. Para a compreensão da origem da vida, também.
Mas, com a criação da moeda, com a popularização da escrita e a invenção das leis o pensamento humano também evoluiu e a visão mitológica do mundo já não era suficiente para convencer algumas pessoas.
Os primeiros filósofos tentaram provar que as explicações mitológicas não eram confiáveis, pois não possuíam argumentos convincentes, prováveis e objetivos. Para tanto, passaram a observar a natureza e a procurar na realidade as respostas para os acontecimentos. Os primeiros pensadores, que romperam com o pensamento mitológico eram chamados de filósofos da natureza, pois buscavam compreender a origem da vida por meio da investigação da natureza e dos processos naturais.
Esses pensadores tinham uma coisa em comum: acreditavam que uma substância básica estava por trás de todos os processos. Ela se desenvolveu a partir da noção de que deveria haver uma substância básica, que fosse a causa oculta, por assim dizer, de todas as transformações da natureza.

[3ª Série] Texto e Atividade Reflexiva sobre Nietzsche

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Texto sobre Nietzsche:

Nietzsche desenvolve uma crítica intensa aos valores morais, propondo um estudo da formação histórica dos valores presentes na cultura ocidental. Para ele, ao contrário do que pensa a tradição ocidental, não existem noções absolutas de bem e de mal. Estas noções são produtos histórico-culturais, elaboradas pelo homem a partir de interesses humanos, mas que, as religiões impõem como se fossem produtos da “vontade de Deus”.

Aceitar tais valores como provenientes de uma existência divina traz perigos ao desenvolvimento humano. A estes valores o pensador chama de “moral de rebanho”. As pessoas acomodam-se diante das dificuldades e submetem-se docilmente aos valores dominantes da tradição cristã e burguesa, não enfrentando o desafio de viver as próprias vidas, responsabilizando ou esperando que uma potência externa a nós (Deus) faça o que o indivíduo deve fazer.

Moral de escravos: é herdeira do pensamento socrático-platônico - que provocou a ruptura entre o trágico e o racional - e da tradição judaico-cristã, da qual deriva a moral decadente (tentativa subjugação dos instintos pela razão). A moral de escravos nega os valores vitais à procura da paz e do repouso. O indivíduo fica enfraquecido, pois tem diminuída sua potência. A alegria é transformada em ódio, a conduta humana torna-se vítima do ressentimento e da má consciência - sentimento de culpa e a noção de pecado.

Moral de senhores: é a moral que visa a conservação da vida e dos instintos fundamentais. Funda-se na capacidade de criação, de invenção, cujo resultado é a alegria, consequência da afirmação da potência. O indivíduo que consegue se superar é o que atingiu o “além-do-homem”, aquele que consegue reavaliar os valores, desprezar os que o diminuem e criar outros que estejam comprometidos com a vida.
Turmas,

Conforme combinado, às turmas que não conseguiram copiar a Atividade Reflexiva, seguem as questões de deverão ser copiadas e respondidas em seus cadernos para a próxima aula de Filosofia, na semana que vem.

Atividade Reflexiva:

1. Sobre si mesmo, Nietzsche afirmou: “Não sou um homem, sou uma dinamite”. Identifique e explique as “bombas” lançadas pelo filósofo nos domínios da moral e da religião.
2. Que críticas faz o filósofo alemão sobre a religião? Que relação ele vê entre ela e o desenvolvimento autêntico do ser humano?
3. Que críticas faz o filósofo sobre a moral?
4. O que é a transvalorização da moral?
5. O que significa a moral de rebanho?
6. Explique e distinga os conceitos de moral de escravos e moral de senhores.

Um abraço!

Profª. Karoline

[2ª Série] Sociologia: Pobreza e desenvolvimento

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Pobreza e desenvolvimento

As expressões subdesenvolvimento e país subdesenvolvido foram muito utilizadas na imprensa e na literatura sociológica e econômica durante as décadas de 1950 e 1960. Entre os anos 1970 e 1990, porém, tornou-se comum o uso dos conceitos de Terceiro Mundo e terceiro-mundismo, que reuniam as regiões antes rotuladas de subdesenvolvidas. Atualmente, essas expressões foram substituídas pelas noções de país pobre e de país emergente, ou em desenvolvimento.
Esses novos conceitos têm a vantagem de diferenciar sociedades extremamente pobres de regiões que combinam índices importantes de crescimento e bem-estar com amplos setores da população vivendo abaixo da linha de pobreza. Ao grupo dos extremamente pobres pertencem países como Burkina Fasso, na África, Haiti, na América Latina, e Bangladesh, na Ásia. Já o grupo dos emergentes, ou que estão em desenvolvimento, englobam países como o Brasil, a Rússia, a Índia e a China, grupo esse conhecido pela sigla BRICs.
Neste capítulo, retomamos o conceito inicial de subdesenvolvimento porque ele designa uma situação histórica específica, comum a um conjunto de países, que a noção de país emergente ou em desenvolvimento às vezes mascara, escondendo problemas que os aproximam mais dos países pobres do que daqueles que já alcançaram o pleno desenvolvimento.

1.  Os países pobres

Antes de entrar na discussão do conceito de subdesenvolvimento, talvez seja interessante assinalar algumas características comuns a todos os países pobres, parte das quais podem ser encontradas também nos países emergentes. Essas características são:
· baixa renda per capita;
· dependência econômica e tecnológica em relação aos países plenamente desenvolvidos;
· grandes desigualdades na distribuição de renda, com algumas pessoas muito ricas e a maioria da população, ou boa parte dela, vivendo em condições de extrema pobreza;
· taxas elevadas de mortalidade infantil;
· altos índices de analfabetismo;
· má distribuição da propriedade da terra, com um pequeno grupo de latifundiários que concentram a maior parte do solo cultivável, enquanto milhões de camponeses vivem sem-terra ou com pouca terra para trabalhar;
· dívida externa elevada;
· economia controlada em parte por empresas multinacionais com centros de decisão fora do país;
· corrupção generalizada nos órgãos administrativos e em outros setores do Estado;
· desrespeito aos direitos humanos mais ou menos frequente.

Um desenvolvimento perverso

Assim, são chamados hoje países pobres aqueles que apresentam baixos níveis de desenvolvimento humano, econômico e social. Tais características, como vimos, atingem também, embora apenas parcialmente, ou em menor escala, os países ditos em desenvolvimento.
Afastado hoje da literatura sociológica e econômica, o antigo conceito de subdesenvolvimento não pode ser confundido com o de não-desenvolvimento ou com o de pouco desenvolvimento. Na verdade, sua característica mais marcante é o que se poderia chamar de desenvolvimento perverso, já que o crescimento econômico nos países antes chamados de subdesenvolvidos acentua as desigualdades sociais em vez de diminuí-las, aumentando o abismo que separa ricos de pobres.
Por outro lado, é preciso destacar que alguns países do antigo grupo de subdesenvolvidos encontram-se hoje numa fase mais avançada de industrialização. Estão nesse caso os BRICs – Brasil, Rússia, Índia e China -, a Argentina, o Chile, a África do Sul e o México, além de outros. Eles formam o chamado grupo de países emergentes.

Ricos e pobres no Brasil

O Brasil se situa entre as dez maiores economias do mundo. Entretanto, do ponto de vista da distribuição de renda, da qualidade de vida e do bem-estar da população, encontra-se ainda em um patamar muito baixo.  Segudndo a classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), em setembro de 2007 o Brasil ocupava a 70ª posição na escala do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), entre 177 países estudados.
O IDH é um indicador que me de a qualidade de vida de um país. Para calculá-lo, os técnicos da ONU levam em conta a expectativa de vida da população, a renda per capita, a taxa de alfabetização da população e o índice de matrículas no ensino fundamental, médio e superior. Atualmente, o Brasil tem um IDH mais baixo do que o de países mais pobres, como Panamá (62º), Cuba (51º), Uruguai (46º) e Chile (40º).
Em relação ao ano anterior, o IDH de 2007, que chegou a 0,800, representou um avanço, pois colocou pela primeira vez o Brasil entre os países de alto desenvolvimento humano (nos anos anteriores, o país se encontrava entre os de desenvolvimento humano médio).
Apesar desse avanço, ainda se mantêm no Brasil alguns dos indicadores típicos  do subdesenvolvimento: desigualdade extrema na distribuição de renda, pobreza, insuficiência alimentar, grande incidência de doenças, altas taxas de mortalidade infantil entre os pobres, precariedade na coleta de esgotos, etc.
Veja agora alguns dados socioeconômicos referentes ao Brasil:
·  População: 187 milhões de pessoas (2006), dos quais 81% estão na área urbana e 19% na zona rural.
· 7,5% da população, ou seja, cerca de 14 milhões de pessoas estão abaixo da linha de pobreza (sobrevivem com menos de 1 dólar por dia).
· 85 milhões de brasileiros consomem, por dia, menos de 2.240 calorias, o que é considerado o número mínimo necessário para uma vida normal (a média nacional é de 1.811 calorias).
· PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas durante um ano): 833 bilhões de dólares (2007); 44,4% da riqueza produzida dse concentra nas mãos dos 10% mais ricos da população.
· 10% da população sobrevive com menos de um salário mínimo por mês; esse grupo de pessoas fica com apenas 0,8% do total da renda do país.
· Renda per capita: 3.890 dólares (2005). A dos Estados Unidos é superior a 43 mil dólares.
· Em cada grupo de mil crianças que nascem, cerca de 33 morrem antes de completar 5 anos (2006).

[2ª Série] Sociologia: Cronologia do Racismo

Cronologia do Racismo

Antiguidade: Na antiguidade, entre diversos povos, as relações eram sempre de vencedor e aprisionado. Independiam da etnia.
Idade Média: Sentimento de superioridade xenofóbico de origem religiosa. Os cristãos conquistavam povos e os incorporavas à cristandade.
Renascimento: Ideologias justificando o domínio da Europa sobre as demais regiões. Doutrinas que alegavam existir na Europa uma raça superior. A raça branca era destinada por Deus e pela história a comandar o mundo e dominar as raças que não eram europeias, consideradas inferiores.
Chegada dos conquistadores portugueses à África: Nos primeiros contatos entre portugueses e africanos, no século XV, não houve atritos de origem racial. Os negros e outros povos da África entraram em acordos comerciais com os europeus, que incluíam o comércio de escravos que como uma forma de aumentar o número de trabalhadores numa sociedade.
Colonização da América por portugueses e espanhóis: Surgiu a ideia de se buscar uma sustentação ideológica influenciada pela religião de que os índios não eram humanos, justificando a exploração para o trabalho estendendo-se logo para a etnia negra.
No Brasil: os negros foram trazidos para serem escravos nos engenhos de cana de açúcar, devido às dificuldades da escravização dos índios. Tornou-se justificada pelo fato de terem mais convívio com os brancos, serem mais resistentes às suas doenças, saberem lidar com os animais domesticados e também pela motivação financeira, pois o tráfico negreiro foi a maior fonte de renda do período colonial.
Neocolonialismo: na colonização da África no século XIX, os europeus criaram justificativas ditas “científicas” para a imposição da cultura e modo de vida europeus às sociedades negras. Criavam falsas teorias científicas para reforçar a ideia de que o branco era mais evoluído que os negros, portanto, mais humano. Esta ideia foi aproveitada pelos nazistas para justificar o seu domínio e a matança de judeus e negros.

[2ª Série] Sociologia: Racismo é burrice - Gabriel O Pensador




Racismo é burrice – Gabriel O Pensador

1    Salve, meus irmãos africanos e lusitanos, do outro lado do oceano
2    "O Atlântico é pequeno pra nos separar, porque o sangue é mais forte que a água do mar"
3    Racismo, preconceito e discriminação em geral;
4    É uma burrice coletiva sem explicação
5    Afinal, que justificativa você me dá para um povo que precisa de união
6    Mas demonstra claramente
7    Infelizmente
8    Preconceitos mil
9    De naturezas diferentes
10    Mostrando que essa gente
11    Essa gente do Brasil é muito burra
12    E não enxerga um palmo à sua frente
13    Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido de forma mais consciente
14    Eliminando da mente todo o preconceito
15    E não agindo com a burrice estampada no peito
16    A "elite" que devia dar um bom exemplo
17    É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento
18    Num complexo de superioridade infantil
19    Ou justificando um sistema de relação servil
20    E o povão vai como um bundão na onda do racismo e da discriminação
21    Não tem a união e não vê a solução da questão
22    Que por incrível que pareça está em nossas mãos
23    Só precisamos de uma reformulação geral
24    Uma espécie de lavagem cerebral

25    Racismo é burrice
26    Não seja um imbecil
27    Não seja um ignorante
28    Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante
29    O quê que importa se ele é nordestino e você não?
30    O quê que importa se ele é preto e você é branco
31    Aliás, branco no Brasil é difícil, porque no Brasil somos todos mestiços
32    Se você discorda, então olhe para trás
33    Olhe a nossa história
34    Os nossos ancestrais
35    O Brasil colonial não era igual a Portugal
36    A raiz do meu país era multirracial
37    Tinha índio, branco, amarelo, preto
38    Nascemos da mistura, então por que o preconceito?
39    Barrigas cresceram
40    O tempo passou
41    Nasceram os brasileiros, cada um com a sua cor
42    Uns com a pele clara, outros mais escura
43    Mas todos viemos da mesma mistura
44    Então presta atenção nessa sua babaquice
45    Pois como eu já disse racismo é burrice
46    Dê a ignorância um ponto final:
47    Faça uma lavagem cerebral

48    Racismo é burrice
49    Negros e nordestinos constroem seu chão
50    Trabalhador da construção civil conhecido como peão
51    No Brasil, o mesmo negro que constrói o seu apartamento ou o que lava o chão de uma delegacia
52    É revistado e humilhado por um guarda nojento
53    Que ainda recebe o salário e o pão de cada dia graças ao negro, ao nordestino e a todos nós
54    Pagamos homens que pensam que ser humilhado não dói
55    O preconceito é uma coisa sem sentido
56    Tire a burrice do peito e me dê ouvidos
57    Me responda se você discriminaria
58    O Juiz Lalau ou o PC Farias
59    Não, você não faria isso não
60    Você aprendeu que preto é ladrão
61    Muitos negros roubam, mas muitos são roubados
62    E cuidado com esse branco aí parado do seu lado
63    Porque se ele passa fome
64    Sabe como é:
65    Ele rouba e mata um homem
66    Seja você ou seja o Pelé
67    Você e o Pelé morreriam igual
68    Então que morra o preconceito e viva a união racial
69    Quero ver essa música você aprender e fazer
70    A lavagem cerebral

71    Racismo é burrice
72    O racismo é burrice mas o mais burro não é o racista
73    É o que pensa que o racismo não existe
74    O pior cego é o que não quer ver
75    E o racismo está dentro de você
76    Porque o racista na verdade é um tremendo babaca
77    Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca
78    E desde sempre não para pra pensar
79    Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar
80    E de pai pra filho o racismo passa
81    Em forma de piadas que teriam bem mais graça
82    Se não fossem os retratos da nossa ignorância
83    Transmitindo a discriminação desde a infância
84    E o que as crianças aprendem brincando
85    É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando
86    Nenhum tipo de racismo - eu digo nenhum tipo de racismo - se justifica
87    Ninguém explica
88    Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo que é uma herança cultural
89    Todo mundo que é racista não sabe a razão
90    Então eu digo meu irmão
91    Seja do povão ou da "elite"
92    Não participe
93    Pois como eu já disse racismo é burrice
94    Como eu já disse racismo é burrice

95    Racismo é burrice
96    E se você é mais um burro, não me leve a mal
97    É hora de fazer uma lavagem cerebral
98    Mas isso é compromisso seu
99    Eu nem vou me meter
100    Quem vai lavar a sua mente não sou eu
101        É você.

[3ª Série] Filosofia: Nietzsche e a transvalorização da moral

Nietzsche e a transvalorização da moral

O pensamento de Nietzsche se orienta no sentido de recuperar as forças inconscientes, vitais e instintivas subjugadas pela razão durante séculos. Para tanto, critica Sócrates por ter encaminhado pela primeira vez a reflexão moral em direção ao controle racional das paixões. Segundo Nietzsche, nasceu aí o homem desconfiado de seus instintos, e essa destruição culminou com o cristianismo, acelerando o processo de "domesticação" do homem.
A moral cristã é a moral do rebanho, geradora de sentimentos de culpa e ressentimentos, e fundada na aceitação do sofrimento, da renúncia, do altruísmo, da piedade, típicos da moral dos fracos.
Por isso Nietzsche defende a transmutação de todos os valores, superando a moral comum para que os atos do homem forte não sejam pautados pela mediocridade das virtudes estabelecidas. Para tanto é preciso recuperar o sentimento de potência, a alegria de viver, a capacidade de invenção.
Nietzsche desenvolve uma crítica intensa aos valores morais, propondo um estudo da formação histórica dos valores presentes na cultura ocidental. Para ele, ao contrário do que pensa a tradição ocidental, não existem noções absolutas de bem e de mal. Estas noções são produtos histórico-culturais, elaboradas pelo homem a partir de interesses humanos, mas que, as religiões impõem como se fossem produtos da “vontade de Deus”.
Aceitar tais valores como provenientes de uma existência divina traz perigos ao desenvolvimento humano. A estes valores o pensador chama de “moral de rebanho”. As pessoas acomodam-se diante das dificuldades e submetem-se docilmente aos valores dominantes da tradição cristã e burguesa, não enfrentando o desafio de viver as próprias vidas, responsabilizando ou esperando que uma potência externa a nós (Deus) faça o que o indivíduo deve fazer.
Moral de escravos: é herdeira do pensamento socrático-platônico - que provocou a ruptura entre o trágico e o racional - e da tradição judaico-cristã, da qual deriva a moral decadente (tentativa subjugação dos instintos pela razão). A moral de escravos nega os valores vitais à procura da paz e do repouso. O indivíduo fica enfraquecido, pois tem diminuída sua potência. A alegria é transformada em ódio, a conduta humana torna-se vítima do ressentimento e da má consciência - sentimento de culpa e a noção de pecado.
Moral de senhores: é a moral que visa a conservação da vida e dos instintos fundamentais. Funda-se na capacidade de criação, de invenção, cujo resultado é a alegria, consequência da afirmação da potência. O indivíduo que consegue se superar é o que atingiu o “além-do-homem”, aquele que consegue reavaliar os valores, desprezar os que o diminuem e criar outros que estejam comprometidos com a vida.

[2ª Série] Filosofia: Sto. Agostinho - teorias da reminiscência e iluminação divina

A teoria da reminiscência e a teoria da iluminação divina.

No período medieval não era muito comum aos estudiosos debruçar os seus estudos sobre o conhecimento. No entanto, Santo Agostinho o fez.  O filósofo cristão aproximou a cultura clássica - tão largamente expressa no pensamento dos gregos, principalmente Sócrates, Platão e Aristóteles - do cristianismo vigente, forte na época da Patrística.
Ele apresenta "teoria do conhecimento" (aos moldes platônicos) com uma cisão (divergência) entre conhecimento proveniente dos sentidos – que fornece elementos que são levados à memória e organizado pelo indivíduo –, e o conhecimento inteligível – aquele que só pode ser percebido pela mente humana e somente por meio da reflexão.
É no âmbito da reflexão sobre o conhecimento que ele se aproxima da teoria platônica da reminiscência. A reminiscência platônica, ou a anamnésis é a ação de recordar, ou trazer à mente o conhecimento que é inerente à psique humana e que precisa ser lembrada pela reflexão filosófica. É o recordar os entes inteligíveis que já existem na psique. Agostinho identifica na "teoria das ideias" de Platão o universo das "ideias divinas". As ideias divinas, os homens as recebem de Deus através da iluminação, e, com isso o conhecimento das verdades eternas.
Agostinho reinterpreta a teoria da Reminiscência fazendo nascer sua teoria da Iluminação. Essa doutrina da iluminação divina responde como o homem recebe de Deus o conhecimento das verdades eternas, ou como diria Platão, as verdades inteligíveis. Dessa forma, o verdadeiro é o que é previamente iluminado pela luz divina, e que é algo extraído da própria alma, mas que está de modo infuso. Pode-se afirmar, no entanto, que a iluminação é a potência que age no intelecto do homem para se chegar a verdade imutável.
Agostinho não rejeita o conhecimento proveniente das sensações, mas o coloca em um patamar inferior, entendendo o intelecto como superior, mas sendo ambos fonte de conhecimento. É na realidade uma reinterpretação do platonismo. Para ele, assim como para a visão a luz (física) exerce papel fundamental, sem a qual não haveria conhecimento dos objetos sensíveis, do mesmo modo para o conhecimento intelectual é necessário uma luz espiritual, esta, no entanto, proveniente de Deus.
Se para Platão o conhecimento é o resultado de uma reflexão dialética, para Agostinho é pura graça divina, não negando o caráter filosófico que é a reflexão. Esta por sua vez, é alcançada por uma vida de piedade e de temor a Deus. Atingir essa iluminação não é tarefa para todos os homens mas sim para aqueles que se voltam a Deus e recebe Cristo como o mediador desse processo.
Embora essa mediação tenha sido afetada pelo pecado original, ela não foi de completamente anulada, é a graça divina que auxilia o homem em sua ascensão ao mundo espiritual, onde ele pode ter contato com os entes do conhecimento puro.

Outros elementos de reflexão da filosofia cristã de Santo Agostinho

Superioridade da alma: para o filósofo, há a supremacia do espírito sobre o corpo, a matéria. A alma teria sido criada por Deus para reinar sobre o corpo, dirigindo-o para a prática do bem.
Boas obras ou graça divina? O ser humano que trilha a vida do pecado só consegue retornar aos caminhos de Deus e da salvação mediante a combinação de seu esforço pessoal de vontade e a concessão imprescindível da graça divina. Segundo Agostinho, sem a graça divina o ser humano nada consegue. Essa graça seria concedida apenas aos predestinados à salvação. A questão da graça divina marcou profundamente o pensamento medieval cristão. E a doutrina da predestinação à salvação foi, posteriormente, adotada por alguns ramos da teologia protestante.  A Igreja Cristã Medieval pregava que, apenas boa vontade e boas obras humanas não eram suficientes para a salvação individual.
Liberdade e pecado: para o filósofo, a liberdade humana é própria da vontade e não da razão, daí a origem do pecado. A pessoa peca porque usa de seu livre-arbítrio para satisfazer uma vontade má, mesmo sabendo que tal atitude é pecaminosa. Desta forma, o ser humano não pode ser autônomo na sua vida moral, pois se for, a vontade o conduzirá a querer o mal e praticar o pecado. Neste caso necessita da graça de vida para se salvar.
Precedência da fé: a fé nos faz crer em coisas que nem sempre entendemos pela razão. A fé revela verdades ao ser humano de forma direta e intuitiva. Vem depois a razão, esclarecer aquilo que a fé antecipou.

Influências helenísticas sobre o pensamento de Agostinho

Do maniqueísmo: herdou uma concepção dualista no âmbito da moral, simbolizada pela luta entre o bem e o mal, a luz e as trevas, a alma e o corpo. Nesse sentido diz que o homem tem uma inclinação natural para o mal, para os vícios, para o pecado (já nascemos pecadores). O mal é o afastamento de Deus, necessitando assim o ser humano de uma intensa educação religiosa.

Ceticismo: desconfiava dos dados dos sentidos, do conhecimento sensorial, que nos apresenta uma multidão de seres mutáveis, flutuantes e transitórios.

Platonismo: assimilou que a verdade deve ser buscada intelectualmente no “mundo das ideias”. Defendeu a via do autoconhecimento, o caminho da interioridade, como instrumento legítimo para a busca da verdade. A nossa alma necessita da luz divina para visualizar as verdades eternas da sabedoria.

Fontes: ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1995, p. 206-209
SILVA, Marcos Roberto Damásio. A teoria da iluminação (conhecimento) em Santo Agostinho. Disponível em: <http://inclinacoesfilosoficas.blogspot.com.br/2008/09/conhecimento-e-teoria-da-iluminao-na.html>

[1ª Série] Filosofia: Situando no tempo o nascimento da Filosofia

Situando no tempo o nascimento da Filosofia

As narrativas míticas tentavam responder as questões fundamentais, como: a origem de todas as coisas, a condição do homem e suas relações com a natureza, com o outro e com o mundo, enfim, a vida e a morte, questões que a filosofia desenvolveu no decorrer de sua história. Mas aqui podemos formular outra questão: a filosofia nasceu da superação dos mitos, mas foi uma superação gradual ou um rompimento súbito? Para tanto, temos que primeiramente identificar algumas diferenças básicas entre os mitos e a filosofia. O Mito (Mythos) é narrado pelo poeta rapsodo, que escolhido pelos deuses transmitia o testemunho incontestável sobre a origem de todas as coisas, oriundas da relação sexual entre os deuses, gerando assim, tudo que existe e que existiu. Os mitos também narram o duelo entre as forças divinas que interferiam diretamente na vida dos homens, em suas guerras e no seu dia-a-dia, bem como explicava a origem dos castigos e dos males do mundo. Ou seja, a narrativa mítica é uma genealogia da origem das coisas a partir de lutas e alianças entre as forças que regem o universo.
A Filosofia, por outro lado, trata de problematizar o porquê das coisas de maneira universal, isto é, na sua totalidade. Buscando estruturar explicações para a origem de tudo nos elementos naturais e primordiais (água, fogo, terra e ar) por meio de combinações e movimentos.
Enquanto o mito está no campo do fantástico e do maravilhoso, a filosofia não admite contradição, exige lógica e coerência racional e a autoridade destes conceitos não advém do narrador como no mito, mas da razão humana, natural em todos os homens. 

Teorias sobre a origem da Filosofia

Teoria Orientalista: defende que a origem da filosofia está ligada ao contato que os gregos tiveram com a sabedoria oriental (egípcia, persa e babilônica). Vários pesquisadores são categóricos ao afirmar que as grandes civilizações orientais mantiveram contato com as civilizações gregas e essas determinaram formas da vida social, da religião, das artes e das técnicas usadas pelos gregos.

Teoria do “Milagre Grego”: afirmava que o surgimento da filosofia na Grécia se deve a uma espécie de “milagre grego”, ou seja, os gregos foram um povo excepcional, sem nenhum outro semelhante a eles, nem antes nem depois deles, e por isso somente eles poderiam ter sido capazes de criar a filosofia, as ciências e dar às artes uma elevação que nenhum outro povo conseguiu.

Fatores históricos que contribuíram para o nascimento da Filosofia:
A invenção da escrita: com o ressurgimento da escrita, entre os séculos IX e VIII a.C., esta se desliga da influência religiosa, passando a ser utilizada para formas mais democráticas de poder. A escrita gera uma nova idade mental porque a postura de quem escreve é diferente daquela de quem apenas fala.

O surgimento da moeda: inventada na Lídia (Turquia), aparece na Grécia por volta do séc. VII a.C., vindo facilitar os negócios e impulsionar o comércio. Com a democratização de um valor, a moeda supera os símbolos sagrados e afetivos, racionalizando uma medida comum.

A lei escrita: séc. VII a.C., proporcionou a criação de regras comum a todos, de forma racional, sujeita à discussão e modificação. Antes dela, a justiça era dependente da interpretação da vontade divina ou da arbitrariedade dos reis.

O cidadão da pólis e a consolidação da democracia: com o nascimento da pólis grega (modelo das antigas cidades) que estava centralizada na ágora (praça pública), lugar onde se debatiam os problemas de interesse comum. Contribuiu para a autonomia da palavra, não mais a palavra mágica dos mitos, dada pelos deuses, mas a humana do conflito, da discussão, da argumentação. O hábito da discussão pública estimulou o pensamento racional, argumentativo, distanciando-se cada vez mais das tradições míticas.

Caros alunos,
Estas teorias, de certa forma são exageradas, pois foram criadas por pesquisadores que queriam valorizar o seu contexto histórico, desmerecendo as influências de outros povos ou supervalorizando a sua própria. De fato, a Filosofia surgiu na Grécia, mas o seu nascimento não foi nem uma apropriação de culturas orientais, nem um milagre grego. Tratou-se, na verdade, de uma junção de fatos históricos ocorridos na Grécia que favoreceram o desenvolvimento de uma nova maneira de pensar.

Sendo assim, o nascimento da Filosofia não se deu de forma instantânea, como uma ruptura do pensamento mitológico, mas que vários fatores históricos propiciaram o desenvolvimento de uma nova estrutura de pensamento - o pensamento crítico.

Mesmo com o surgimento da Filosofia, o pensamento mítico continuou a fazer parte da vida dos gregos, inclusive da própria Filosofia, pois nos textos dos primeiros filósofos eram encontradas as mesmas estruturas de pensamento existentes no relato mítico, como por exemplo, a aceitação da existência de forças opostas que deram origem à vida e aos fenômenos da natureza. Segundo o estudioso Francis Cornford, essa explicação se assemelha aos relatos de Hesíodo na Teogonia, obra que trata da genealogia dos deuses gregos.

Fontes:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1995, p. 38-39.
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Ed. Saraiva, 2010, p. 165.
MENDES, Ademir Aparecido Pinhelli, et al. Filosofia – Ensino Médio. Curitiba: SEED-PR, 2006, p. 19-22.

[1ª Série] Sociologia: O Mito do Tarzan




O Mito do Tarzan
No começo do século XX, o escritor norte-americano Edgar Rice Burroughs (1875-1950) deu início à publicação de uma série de histórias cujo personagem central era um homem criado desde criança por grandes macacos na África. Filho de um casal de nobres ingleses mortos após o naufrágio do navio em que viajavam pela costa africana, seu nome era John Greystoke. Os macacos que o criaram, porém, o chamavam de Tarzan. Sucesso imediato entre os leitores, Tarzan logo passou para as telas de cinema e para as histórias em quadrinhos, encantando sucessivas gerações.Nas histórias de Burroughs, Tarzan aprendeu a ler sozinho, com a ajuda apenas de um livro encontrado em uma cabana. Além disso, demonstrava sentimentos nobres e humanos e defendia valores semelhantes aos da sociedade em que viveu o escritor. Na verdade, o autor criou Tarzan segundo a imagem que tinha do homem europeu na época vitoriana: "civilizado", incapaz de atos de violência gratuita, justiceiro e ... "superior" aos africanos. Tratava-se, portanto, de uma construção ideológica que reproduzia as relações de dominação das potências européias sobre os povos da África na época do imperialismo (séculos XIX e primeira metade do século XX). Por essa época, os líderes das potências européias justificavam essa dominação afirmando que os europeus iam para a África difundir o que chamavam de "civilização" entre povos "bárbaros" e "atrasados".
Como obras de ficção, os livros de Tarzan sempre atraíram o interesse de jovens leitores. Como fonte de conhecimento, entretanto, apresentam uma imagem falsa e deformada da África, criando um personagem mítico, distante da realidade. Como vimos, os indivíduos da espécie humana só se tornam verdadeiramente humanos por intermédio da convivência e da interação em um meio social, ou seja, com seres de sua espécie. Como outras construções ideológicas, Tarzan con¬tribuiu para difundir e legitimar os interesses imperialistas de dominação dos povos africanos entre os séculos XIX e XX.

OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ed. Ática, 2010. p.11.

[1ª Série] Sociologia: Como nos tornamos humanos?

Somos todos seres sociais
Desde as suas origens, há cerca de 190 mil anos, o homo sapiens sapiens, ou homo sapiens moderno, espécie a qual pertencemos, se constituiu por meio do grupo. Assim como outros animais que vivem agrupados, os primeiros seres humanos só conseguiram sobreviver nas difíceis condições do mundo que os cercava porque contaram com o apoio e a solidariedade do grupo a que pertenciam.
Essa dependência do indivíduo em relação ao grupo teve início, assim, no momento mesmo em que surgiram os primeiros seres humanos, e continua até hoje. Uma de suas características a comunicabilidade humana, ou seja, a capacidade de o indivíduo se comunicar com seus semelhantes de forma a transmitir ideias, sentimentos, vontades, interesses, emoções. Essa capacidade evoluiu ao longo do tempo, passando de gestos e sinais a articulação de sons, ao desenvolvimento da linguagem, as primeiras manifestações artísticas - ainda no Período Paleolítico (190000 a.C.-8000 a.C.) - e escrita, criada em diferentes épocas em diversas regiões do planeta, como a Mesopotâmia (4000 a.C.), o Egito (3000 a.C.), a China (1700 a.C.) e a América Central, (900 a.C.) - datas aproximadas.
Hoje, utilizamos também novas formas de comunicação (a internet, por exemplo), mas algumas das que foram criadas por nossos ancestrais mais remotos, como a linguagem, ainda continuam em vigor.
A tendência do ser humano a viver em grupo pode ser comprovada de forma positiva pela experiência empírica, cotidiana: seja na escola, na família ou no país, fazemos parte de um conjunto mais amplo de pessoas, de um grupo social, ligado a um conjunto ainda maior, a sociedade em que vivemos. Mas há também outras formas de comprovar a necessidade da vida em grupo para o desenvolvimento do ser humano. Uma delas a experiência de crianças que vivem entre animais e em situações de isolamento em relação a outros indivíduos da espécie humana. Vamos conhecer uma dessas experiências?
Um caso intrigante
Em 1797, um menino seminu foi visto na floresta de Lacaune, na França. Mais tarde, foi registrado seu aparecimento no distrito de Aveyron. Descalço, apenas alguns farrapos de uma velha camisa (sinal de algum contato anterior com seres humanos) cobriam parte de seu corpo. Sempre que alguém se aproximava, ele fugia como um animal assustado.
Era um menino de cerca de 12 anos. Seu corpo estava repleto de cicatrizes. Provavelmente abandonado na floresta aos 4 ou 5 anos, foi objeto de curiosidade e provocou discussões acaloradas, principalmente na França.
Após sua captura, verificou-se que Victor (assim passou a ser chamado) no pronunciava nenhuma palavra e parecia no entender nada do que lhe falavam. Apesar do rigoroso inverno europeu, rejeitava roupas e também o uso de cama, preferindo dormir no chão. Locomovia-se apoiado nas mãos e nos pés, correndo como os animais quadrúpedes.

Como nos tornamos humanos?
Victor de Aveyron tornou-se um dos casos mais conhecidos de seres humanos criados em condições de liberdade em ambiente selvagem. Alguns médicos franceses afirmavam que o menino sofria de idiotia, uma deficiência mental grave. Segundo eles, teria sido essa a razão pela qual os pais o haviam abandonado.
O psiquiatra Jean-Marie Gaspard Itard não concordava com a opinião dos colegas. Quais as consequências, perguntava ele, da privação do convívio social e da ausência absoluta de educação para a inteligência de um adolescente que viveu assim, separado de indivíduos de sua espécie? Itard acreditava que a situação de abandono e afastamento da sociedade que explicava o comportamento diferente do menino. Discordava, assim, do diagnóstico de deficiência mental para o caso.
A partir de então, Itard trabalhou diretamente na educação do menino. Sua experiência foi registrada no livro A educação de um homem selvagem, publicado em 1801. Nesse livro, Itard apresenta seu trabalho com o menino de Aveyron, descrevendo as etapas de sua educação: ele já é capaz de sentar-se convenientemente mesa, de se servir da quantidade necessária de água para beber, de levar certos objetos ao seu terapeuta; diverte-se ao empurrar um pequeno carrinho e começa a ler (Filmes sugeridos: O garoto selvagem, de François Truffaut, 1970.).
Cinco anos mais tarde, Victor já confeccionava pequenos objetos e podava as plantas da casa. Esses resultados pareciam confirmar a tese de Itard, segundo a qual os antigos hábitos selvagens do menino e sua aparente deficiência mental eram apenas e tão-somente resultado de uma vida afastada da sociedade.
Com base nessa experiência, Itard formulou a hipótese de que a maior parte das deficiências intelectuais e sociais não são inatas, mas tem sua origem na falta de socialização do indivíduo considerado deficiente e na ausência de comunicação com seus semelhantes, especialmente de comunicação verbal.
Aproximando-se de uma visão sociológica, o pesquisador concluiu que o isolamento social prejudica a sociabilidade do indivíduo. Ora, a sociabilidade, ou seja, a capacidade de se comunicar e interagir com outros seres humanos, é o que torna possível a vida em sociedade.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ed. Ática, 2010. p. 10-11.