Profª de Filosofia e Sociologia da Rede Estadual de Goiás desde 2010.
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[2ª Série] Sociologia: Processos Sociais

sábado, 11 de maio de 2013

Processos Sociais

Os alunos de uma escola resolvem fazer uma limpeza geral no salão de festas para o baile de formatura. Organizam-se, um ajuda o outro e logo o trabalho está acabado. Esse resultado foi possível porque houve cooperação. A cooperação é um tipo de processo social.

A palavra processo designa a contínua mudança de alguma coisa numa direção definida. Processo social indica interação social, movimento, mudança. Os processos sociais são as diversas maneiras pelas quais os indivíduos e os grupos atuam uns com os outros, a forma pela quais os indivíduos se relacionam e estabelecem relações sociais.

Qualquer mudança proveniente dos contatos sociais e da interação social entre os membros de uma sociedade constitui, portanto, um processo social.

Processos associativos e dissociativos

No grupo social ou na sociedade como um todo, os indivíduos e os grupos se reúnem e se separam, associam-se e  dissociam-se. Assim, os processos sociais podem ser associativos e dissociativos.

Os processos associativos estabelecem I formas de cooperação, convivência e consenso no grupo. Já os dissociativos estão relacionados a formas de divergência, oposição e conflito, que podem se manifestar de modos diferentes. São responsáveis, assim, por tensões no interior da sociedade.

Os principais processos sociais associativos são cooperação, acomodação e assimilação.

A seguir, vamos estudar os processos associativos e dissociativos. Você vai perceber que não seguimos a ordem apresentada no esquema anterior. Isso se deve, em parte, à necessidade de se priorizarem certos processos, seja para facilitar o entendimento de outro, seja porque a partir dele podem surgir outros processos.

Processos Associativos

Cooperação: é a forma de interação social na qual diferente pessoas, grupos ou comunidades trabalham juntos para um mesmo fim. São exemplos de cooperação: a reunião de vizinhos para limpar a rua, ou de pessoas para fazer uma festa; mutirões de moradores para construir conjuntos habitacionais; sociedades cooperativas etc.

A cooperação pode ser direta ou indireta.

Cooperação direta compreende as atividades que as pessoas realizam juntas, como é o caso dos mutirões. Mutirões são atividades que reúnem diversas pessoas em um esforço comum para alcançar determinado objetivo. Nos bairros populares de periferia de grandes cidades do Brasil, por exemplo, não é raro que pessoas ligadas por laços de amizade trabalhem juntas nos fins de semana para construir a casa de uma delas. Quando a casa está pronta, as mesmas pessoas passam a cooperar na construção da casa de outra família integrante do grupo.

Cooperação indireta é aquela em que as pessoas, mesmo realizando trabalhos diferentes, necessitam indiretamente umas das outras, por não serem autossuficientes. Tomemos o exemplo de um médico e de um lavrador: o médico não pode viver sem o alimento produzido pelo lavrador, e este necessita de cuidados médicos quando fica doente. Existe, assim, entre eles uma relação de complementariedade.

Uma das diferenças entre a cooperação direta e a indireta está no fato de, no primeiro caso, se desenvolverem relações de solidariedade e apoio mútuo entre as pessoas envolvidas. Isso não ocorre quando a cooperação é indireta, pois nesse caso as pessoas envolvidas não estão ligadas por um esforço coletivo destinado a conquistar um objetivo comum.

Acomodação: o indivíduo ou o grupo social se ajusta a uma situação ou ao modo de vida de um grupo dominante para não gerar conflitos. Ex.: Escravos do período colonial brasileiro. Estes nunca aceitaram a situação de servidão, apenas se acomodaram à dominação e sempre que podiam se rebelavam.

Assimilação: processo de ajustamento pelo qual indivíduos ou grupos antagônicos (opostos) tornam-se semelhantes, havendo transformações internas nos indivíduos ou grupos. Exemplo: imigrante que se integra à sociedade que o acolhe.

Processos Dissociativos

Competição: "No uso recente, competição é a forma de interação que implica luta por objetivos escassos; essa interação é regulada por normas, pode ser direta ou indireta, pessoal ou impessoal, e tende a excluir o uso da força e da violência" (Dicionário de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1987. p. 218).

A competição pode levar indivíduos a agir uns contra os outros em busca de uma melhor situação. Ela nasce dos mais variados desejos humanos, como ocupar uma posição social mais elevada, ter maior importância no grupo social, conquistar riqueza e poder, vencer um torneio esportivo etc.

Ora, nem todos podem obter os melhores lugares nas esferas sociais, pois os postos mais importantes são em número muito menor que seus pretendentes, isto é, são escassos. Assim, os que pretendem alcançá-los entram em competição com os demais concorrentes. Nessa disputa, as atenções de cada competidor estão voltadas para a recompensa e não para os outros concorrentes.

Há sociedades que estimulam mais a competição que outras. Entre as tribos indígenas, por exemplo, as relações não são tão acentuadamente competitivas como na sociedade capitalista. Esta última estimula os indivíduos a competirem em todas as suas atividades – na escola, no trabalho e até no lazer -, exacerbando o individualismo em prejuízo da cooperação.

Conflito: Quando a competição assume características de elevada tensão social, sobrevém o conflito. Diariamente, vemos e ouvimos no noticiário dos jornais, do rádio e da televisão relatos de conflitos em diversas partes do mundo: combate na Colômbia entre tropas do governo e fazendas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), no interior do Brasil, às vezes seguidas (ou precedidas) de assassinatos de líderes sindicais a mando de grandes fazendeiros (veja o boxe na página seguinte); motins e fugas de menores da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), em São Paulo, conflitos entre israelenses e palestinos no Oriente Médio.

O conflito social é um processo social, pois provoca mudanças na sociedade. Tomemos o exemplo dos negros norte-americanos. Depois de violentos choques com a polícia durante os anos 1960, eles conseguiram ver reconhecidos seus direitos civis. Passados mais de trinta anos, embora certas formas de racismo e discriminação ainda persistam nos Estados Unidos, o negro integrou-se, pelo menos em parte, à sociedade norte-americana, permitindo, inclusive a primeira eleição de um presidente negro americano. Outro exemplo mais recente foi a mudança do governo no Egito graças à pressão popular.

OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Editora Ática, 2010. p.

 

[3ª Série] Filosofia: Thomas Hobbes e o Leviatã

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Filosofia Política de Thomas Hobbes
o leviatã
Aspectos relevantes da Antropologia Filosófica de Hobbes:
Em sua obra Leviatã, Hobbes afirma que o homem é naturalmente ruim e antissocial. É ruim visto que ele é governado pelas paixões e desta forma busca apenas fins puramente egoístas. É antissocial, também se referindo às paixões, pois dado que procura apenas benefícios particulares e é movido pelas paixões, é capaz de prejudicar e até matar para ter seu desejo realizado.
Os argumentos acerca do homem, defendidos por Hobbes difere em alguns aspectos da argumentação de Aristóteles. Enquanto Hobbes afirma que o homem é um ser antissocial, incapaz de viver em sociedade, em estágio natural, porque busca seus desejos particulares, Aristóteles, em A Política, nos diz que o home é um animal político e, vivendo em sociedade, todos procuram um bem em comum, que é a Felicidade.
Entretanto, o homem espontaneamente não vive em sociedade. Quando eles se reúnem para constituir uma, isso ocorre dado o medo e o perigo de morte constante que caracteriza o “estado de natureza”.
Outro aspecto que difere a teoria de Thomas Hobbes da de Aristóteles é quanto à igualdade dos homens. Aristóteles vê na natureza humana diferenças intrínsecas. Enquanto um homem pode exercer atividade intelectual e ser governante, há outros que não são capazes disso. E, é com base nessa diferença natural que Aristóteles justifica a escravidão. Hobbes, ao contrário, não vê diferenças entre os homens, visto que todos são naturalmente governados pelas paixões e com relação ao governante, ele diz que esse deve ser eleito mediante o voto de todos os indivíduos que queiram sair do estado natural, onde todos podem tudo.
O problema das formas de governo:
Para Hobbes, há apenas três formas de governo: monarquia, democracia e aristocracia. A tirania e a oligarquia são variações da monarquia e da aristocracia.
Quanto à questão das formas de governo, o filósofo vê diferenças em relação ao poder do governante. Na democracia, o poder está nas mãos de representantes do povo; na aristocracia, nas mãos de poucos. Segundo ele, estas duas formas de governo têm em comum o poder dividido e o poder dividido entre poucos ou muitos está condenado à dissolução. Dado ser própria da natureza humana ser movida pelas paixões, e o ser humano sempre procurar por poder, honras e glórias, no governo em que o poder está dividido ele estará também mais vulnerável a guerras internas por causa da busca pelo poder.
O filósofo faz uma analogia: assim como não é possível existir mais de um Deus soberano e onipotente, não pode existir um estado em que seu poder esteja dissolvido. Só há soberania se houver um governante, caso contrário o estado não poderá se sustentar, por causa das guerras internas pela busca de mais poder entre seus representantes.
A única forma de governo que Hobbes considera possível de sustentar um estado ou reino é a monarquia. Na monarquia, o soberano tem em suas mãos todo o poder necessário para garantir a tranquilidade no interior do estado. Ele é a fonte de justiça. Aquilo que ele determinar será lei e deverá ser cumprida. Mesmo que ordene a um súdito tentar contra Deus, este deve obedecê-lo visto está submetido às ordens e às leis do soberano.
A monarquia só funciona se for hereditária. A hereditariedade do poder garante que os homens, após a morte do seu rei, não retornem a situação anárquica em que viviam antes do contrato social. O novo rei não necessariamente precisa ser o filho do soberano. Ele poderá ser aquele que o soberano nomear mediante um testamento.
Aspectos relevantes da argumentação teológica de Thomas Hobbes:
Para Hobbes e os filósofos políticos modernos em geral, não é possível através da razão conhecer Deus. Ele não nega Deus, ele admite a existência de um primeiro motor eterno que gerou todas as coisas. Entretanto, diferentemente dos medievais, afirma que não nos é possível conhecer Deus pelo o que está dado (a natureza). Segundo o autor, a religião é fruto da imaginação do homem. Por não conseguir achar respostas, causas para as coisas e os fenômenos, tente a dar explicações sobrenaturais para os fatos. Ele dá exemplos: gregos e romanos, para cada ação (uma chuva ou tempestade) criavam um deus diferente.
Hobbes vai buscar nas Sagradas Escrituras – principalmente no Antigo Testamento – fundamentação teológica para a origem do contrato social. Porém, depois de fundamentado, o filósofo “deixa Deus de lado” afirmando que todo o poder deve estar nas mãos do soberano, inclusive o religioso.
Cabe ao soberano decidir que obras religiosas seus súditos terão acesso e também a interpretação da mesma. O soberano também deve escolher a religião do estado e proibir as demais, para que dessa forma evite conflitos que podem abalar as estruturas do Estado.
A plenitude do poder caracteriza a filosofia política de Thomas Hobbes. O soberano pode ser descrito como um deus na terra, dado o imenso poder que possui.

Por Karoline Rodrigues – 17 de maio de 2004.